sábado, 17 de outubro de 2009

Tempo


Desde que voltei ao trabalho que o tempo para mim, o tempo com o P., o tempo para fazer coisas que gosto, desapareceu do meu horizonte :(

Já lá vai o tempo em que o trabalho aparecia como parte integrante da minha realização pessoal. Já lá vai o tempo das utopias e de melhores dias, no que ao trabalho diz respeito. Já lá vai o tempo em que defendia a minha profissão com unhas e dentes, tudo por amor à camisola e por uma causa. E quantos e quantos sacrifícios já fiz pelo trabalho.

Presentemente trabalho porque preciso. Claro que no meio de algum desalento, há sempre recompensas do outro lado. No entanto, não chegam a preencher as lacunas do tempo que me é roubado.

Gostava tanto de ter tempo para mimar a minha casa que é ainda tão pequenina, para me dedicar a este cantinho onde me encontro com um mundo inteiro e onde um mundo inteiro vem ao meu encontro.

Sinto-me como aquelas recém-mamãs que ao fim dos 4 meses de licença, se vêm obrigadas a largar os seus rebentos nas creches, privadas de muitos momentos importantes e irrepetíveis.
A falta de tempo que tenho agora não me permite ter ideias para partilhar convosco, nem me permite compor e vestir a minha casa. E ela sem mim e o P. não cresce.

Sair de casa de madrugada, chegar a horas decentes a casa, mas continuar a trabalhar que nem uma louca até às tantas... nã, isto é um ritmo que não se coaduna de todo com viver. E é assim que me tenho sentido, uma sobrevivente :(

Ando estafada, cansada e desalentada com este ritmo frenético.

Queria ter tempo, falta-me tempo para expressar o amor pelas pessoas que gosto e amo e dedicar-me às coisas que me preenchem.

A vida às vezes é de uma violência tão silenciosa...

7 comentários:

  1. como te compreendo...ainda ontem uma senhora de idade me dizia " a vida é feita para se viver e ser feliz e não para se sobreviver, ocupando todo o nosso tempo trabalhando..." enfim fiquei sem palavras...mas sem trabalho nada feito...mas por vezes pergunto-me "será que esse nada feito é assim tão importante?" Não seriamos igualmente felizes sem esses pequenos luxos? E sem esses pequenos luxos teriamos mais tempo para nós, pois o trabalho não se impunha...fica o lamento...

    Beijos querida

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  2. Lamentavelmente, passamos os melhores anos da nossa vida trabalhando, na maioria das vezes, trabalhando porque precisamos!!!!
    Ficam por viver muitos momentos...momentos importantes para nós próprios...para quem gostamos...para apreciar a vida....para apreciar a natureza, os animais.....etc

    Muitas vezes sinto-me como tu e pergunto a mim mesma, afinal vivo a vida ou, simplesmente, passo por ela?!
    Qual o sentido de uma vida assim, sem tempo para viver???!!!


    http://omeucrochet.blogspot.com

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  3. Olá...boa noite!
    Entendo o que vc está sentindo - é exatamente assim que me sinto - como se o traballho que sempre amei, não passasse agora de simples e enfadonha obrigação. E o pior é que parece que nem forças tenho para mudar tal estado de coisas ou para procurar novos caminhos. Mas acho que isso passa, é só ter paciência - coisa que não tenho e não é produto que se compre.
    Tenha um boa noite, com lindos sonhos e uma semana maravilhosa. Beijos!!

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  4. Get used to it... É espantoso como com 30 anos (ou pouco mais) tm este discurso. E os professores que durante quase 40 anos das suas vidas sacrificaram as suas vidas pessoais, o poder ver crescer os seus filhos a cada minuto das suas vidas, por amor à profissão? Que eu saiba, ainda não foi mãe, por isso devia ter um pouco mais de consideração por aquelas que de facto são obrigadas a deixar os seus petizes aos cuidados de outrém para poderem ir trabalhar...

    M João

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  5. Cara, Maria João
    Percebe-se pelas suas palavras que sabe muitas coisas a meu respeito (talvez até me conheça, não sei...). De qualquer forma, o desabafo que aqui fiz não menospreza em nada os sacrifícios que tantos e tantos professores fizeram e fazem. Na minha curta carreira de 10 anos já fiz muitos que se reflectiram e bem na minha vida pessoal (quanto a esse aspecto, a Mª João não pode falar do que não sabe). Aliás, eu falo do meu caso pessoal, do que sinto e aqui não se confundem águas.
    Quando diz: "Que eu saiba, ainda não foi mãe, por isso devia ter um pouco mais de consideração por aquelas que de facto são obrigadas a deixar os seus petizes aos cuidados de outrém para poderem ir trabalhar...", desculpe mas em nada o meu discurso falta ao respeito a todas essas pessoas que menciona. Lamento que não tenha compreendido ou tenha deturpado o sentido do meu post.

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  6. Força S. Um beijinho da maf
    Ps- o anónimo "Maria João" centra-se exclusivamente nos professores, qd n são só os profes a fazerem sacrificios. Os juízes, os polícias, e mais uma série de profissões tb têm os seus desafios profissionais que nem sempre são compativeis com uma determinada vida pessoal. A Luarte fala daquilo que todos nós, sem excepção, podemos sentir um dia nas nossas vidas: a incapacidade para conseguir corresponder bem aos múltiplos objectivos que a entidade patronal nos coloca e em simultâneo levar uma vidinha equilibrada com instantes junto daqueles e daquilo que nos são queridos. Há que saber relativizar as coisas, e tentar separar o trigo do joio para não se ser literalmente "engolido" pela máquina do trabalho! Bjinho

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