
Mal dou conta da chave a entrar na porta, largo tudo o que estou a fazer e vou ao seu encontro.
Ainda não tinha sequer posto um pé dentro de casa, já eu estava de porta escancarada e a recebê-lo com muitos beijinhos e abraços.
"Tantas saudadinhas trazem, com certeza, água no bico!", exclama sorridente.
Mas antes que desse mais um passo, pisgo-me para a varanda, com o rabinho entre as pernas. E continuo a estender a roupa na corda.
Dois ou três minutos depois...
...e continua tudo sereno. Ainda não havia chamado por mim. Acho que está enfiado no escritório e ainda não passou pela sala.
Pouso a roupa no alguidar e volto para dentro, decidida a confirmar a minha teoria.
Apanho-o de costas, à porta da sala. Especado a olhar fixamente para o espelho, que está mesmo em frente ao seu nariz.
O meu coração começa a bater nas horas.
Coloco-me de lado, numa posição estratégica que me permite olhar tanto para o espelho como para a sua cara. Não tenho sequer coragem de abrir a boca.
Está desapontado. Mesmo zangado. Semblante carregado.
Sinto que fiz porcaria. E da grossa.
Uns cinco minutos depois, e ele quebra o silêncio. Pela primeira vez saem umas palavras duras e afiadas que me perguntam: "Porque é que não falaste comigo primeiro?!".
Eu toda atrapalhada tento justificar-me até à exaustão. E pelo meio vou dizendo, vezes sem conta: "... Se eu tivesse falado contigo primeiro tu nunca terias deixado. Jamais concordarias".
A conversa do jantar resume-se a perguntas triviais e a respostas monossilábicas. Ele não toca no assunto espelho. E eu sinto que é melhor assim.
O ambiente está nitidamente pesado.
E o resto da noite segue o mesmo caminho.
Sábado de manhã.
Depois de várias horas passadas sobre os anteriores acontecimentos, penso que está na hora de tocar na ferida e ver se dói menos. E pergunto: "Gostaste do espelho?".
Segue-se um longo suspiro do outro lado.
Mas finalmente ouço-o falar: "Não te posso dizer que o espelho não está bonito, porque está. Mas não me sinto confortável com esse espelho cá em casa".
Pelo meio de muitas outras coisas que foi dizendo, acrescentou que se quisesse o espelho pendurado, que o pendurasse eu, ou que pedisse ao meu pai.
Imaginava o trabalho que eu tinha tido, mas, segundo ele, eu não tinha tido o cuidado de fazer um trabalho perfeito. Fui precipitada e comecei pelo fim.
Um trabalho perfeito era ter embebido em Cuprinol ou em Xilophene todas as estruturas de madeira para fazer a prevenção do bicho.
Mas em vez de eu ter começado pela prevenção, comecei pelos acabamentos. Mesmo à gaja!
Eu dou a mão à palmatória. Concordo que esse teria sido um trabalho realmente mais bem feito. Mas eu estou disposta a voltar atrás. Tudo para ficar com o espelho. Mesmo que isso implique deitar para o lixo aquilo que me custou dias a fazer.
Sábado à tarde.
Decido embeber o espelho em veneno e enrolo-o em plástico. Monto-lhe um quartinho altamente tóxico.
Ontem, confirmei que a pintura não estava estragada.
O P., entretanto, já está mais calmo. E já me perguntou onde é que eu quero o espelho pendurado. Isto era tudo quanto eu queria e precisava ouvir :)
Eu aponto para o sítio. E ele responde: "O quê? Aí? Ainda por cima em frente ao sofá para eu ter de levar com o espelho a toda a hora?!
Rimo-nos os dois. Até parece vingança, mas não é. :P
Quando ele estiver fixado na parede, naquele lugar que tinha pensado para ele, eu mostro.
Beijinhos e obrigada por terem estado aí a dar força :)
"Tantas saudadinhas trazem, com certeza, água no bico!", exclama sorridente.
Mas antes que desse mais um passo, pisgo-me para a varanda, com o rabinho entre as pernas. E continuo a estender a roupa na corda.
Dois ou três minutos depois...
...e continua tudo sereno. Ainda não havia chamado por mim. Acho que está enfiado no escritório e ainda não passou pela sala.
Pouso a roupa no alguidar e volto para dentro, decidida a confirmar a minha teoria.
Apanho-o de costas, à porta da sala. Especado a olhar fixamente para o espelho, que está mesmo em frente ao seu nariz.
O meu coração começa a bater nas horas.
Coloco-me de lado, numa posição estratégica que me permite olhar tanto para o espelho como para a sua cara. Não tenho sequer coragem de abrir a boca.
Está desapontado. Mesmo zangado. Semblante carregado.
Sinto que fiz porcaria. E da grossa.
Uns cinco minutos depois, e ele quebra o silêncio. Pela primeira vez saem umas palavras duras e afiadas que me perguntam: "Porque é que não falaste comigo primeiro?!".
Eu toda atrapalhada tento justificar-me até à exaustão. E pelo meio vou dizendo, vezes sem conta: "... Se eu tivesse falado contigo primeiro tu nunca terias deixado. Jamais concordarias".
A conversa do jantar resume-se a perguntas triviais e a respostas monossilábicas. Ele não toca no assunto espelho. E eu sinto que é melhor assim.
O ambiente está nitidamente pesado.
E o resto da noite segue o mesmo caminho.
Sábado de manhã.
Depois de várias horas passadas sobre os anteriores acontecimentos, penso que está na hora de tocar na ferida e ver se dói menos. E pergunto: "Gostaste do espelho?".
Segue-se um longo suspiro do outro lado.
Mas finalmente ouço-o falar: "Não te posso dizer que o espelho não está bonito, porque está. Mas não me sinto confortável com esse espelho cá em casa".
Pelo meio de muitas outras coisas que foi dizendo, acrescentou que se quisesse o espelho pendurado, que o pendurasse eu, ou que pedisse ao meu pai.
Imaginava o trabalho que eu tinha tido, mas, segundo ele, eu não tinha tido o cuidado de fazer um trabalho perfeito. Fui precipitada e comecei pelo fim.
Um trabalho perfeito era ter embebido em Cuprinol ou em Xilophene todas as estruturas de madeira para fazer a prevenção do bicho.
Mas em vez de eu ter começado pela prevenção, comecei pelos acabamentos. Mesmo à gaja!
Eu dou a mão à palmatória. Concordo que esse teria sido um trabalho realmente mais bem feito. Mas eu estou disposta a voltar atrás. Tudo para ficar com o espelho. Mesmo que isso implique deitar para o lixo aquilo que me custou dias a fazer.
Sábado à tarde.
Decido embeber o espelho em veneno e enrolo-o em plástico. Monto-lhe um quartinho altamente tóxico.
Ontem, confirmei que a pintura não estava estragada.
O P., entretanto, já está mais calmo. E já me perguntou onde é que eu quero o espelho pendurado. Isto era tudo quanto eu queria e precisava ouvir :)
Eu aponto para o sítio. E ele responde: "O quê? Aí? Ainda por cima em frente ao sofá para eu ter de levar com o espelho a toda a hora?!
Rimo-nos os dois. Até parece vingança, mas não é. :P
Quando ele estiver fixado na parede, naquele lugar que tinha pensado para ele, eu mostro.
Beijinhos e obrigada por terem estado aí a dar força :)
Tudo está bem quando acaba bem!!!
ResponderEliminarAi essa sensação de alívio, quando finalmente enfrentamos a fera e vencemos a luta, hahaha...
ResponderEliminarPode ser engraçado, claro que sim, mas estes episódios são extremamente desgastantes e com o passar dos anos ... há horas em que já não tenho pachorra, rsrsrsrs...
Boa semaninha com espelho novo :)
O espelho não cabe no teu congelador?
ResponderEliminarEra uma ideia...
Poça, que ele ficou mesmo chateado...!
Beijo e boa semana
Oi Luarte,
ResponderEliminarainda bem que a história do espelho acabou bem! Estava ficando tensa até o meio dela.
Adorei o seu blog e estou seguindo vc. Ficarei muito feliz se vc tb me seguir.
Estou sorteando um colar com pedra da sorte, vou gostar muito se vc participar.
Beijos 1000 e uma ótima semana para vc.
http://www.gosto-disto.com/2011/07/sorteio-da-pedra-da-sorte-luck-stones.html
Ufa... final feliz!
ResponderEliminarCarla: O espelho parece pequeno na foto, mas não é tanto assim. Precisava de ter uma arca congeladora grande e sem gavetas para o pôr a congelar :P
ResponderEliminarObrigada a todas vocês que acompanharam esta novela***
Já estava a ficar preocupada :) Ainda bem que acabou por correr bem!
ResponderEliminarOlá Luarte,a ainda bem que o teu marido teve o bom senso de te deixar ficar com o espelho, além de teres começado o fim de semana de " costas voltadas contigo".
ResponderEliminarBeijos
P.S. A minha patroa disse- me que com petrol também dá passar por cima do móvel e nos buracos.
Vou numa destas semanas experimentar numa cabeceira antiga que está na casa dos meus pais e que eu quero ficar com ela.
Eheheh, eu sei bem o que é ouvir o que tu ouviste... mas antes que ele pergunte onde é que vou colocar isto ou aquilo, eu mesma coloco logo!
ResponderEliminarAinda bem que ficaram com o espelho, seria uma pena voltar a guardá-lo na garagem.
Beijinhos
Eheh! Ele também se mantém firme :)
ResponderEliminarMete lá a foto que está tudo ansioso... ;)
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