segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Assim que chegou a casa...


Mal dou conta da chave a entrar na porta, largo tudo o que estou a fazer e vou ao seu encontro.

Ainda não tinha sequer posto um pé dentro de casa, já eu estava de porta escancarada e a recebê-lo com muitos beijinhos e abraços.

"Tantas saudadinhas trazem, com certeza, água no bico!", exclama sorridente.

Mas antes que desse mais um passo, pisgo-me para a varanda, com o rabinho entre as pernas. E continuo a estender a roupa na corda.

Dois ou três minutos depois...

...e continua tudo sereno. Ainda não havia chamado por mim. Acho que está enfiado no escritório e ainda não passou pela sala.

Pouso a roupa no alguidar e volto para dentro, decidida a confirmar a minha teoria.

Apanho-o de costas, à porta da sala. Especado a olhar fixamente para o espelho, que está mesmo em frente ao seu nariz.

O meu coração começa a bater nas horas.

Coloco-me de lado, numa posição estratégica que me permite olhar tanto para o espelho como para a sua cara. Não tenho sequer coragem de abrir a boca.

Está desapontado. Mesmo zangado. Semblante carregado.

Sinto que fiz porcaria. E da grossa.

Uns cinco minutos depois, e ele quebra o silêncio. Pela primeira vez saem umas palavras duras e afiadas que me perguntam: "Porque é que não falaste comigo primeiro?!".

Eu toda atrapalhada tento justificar-me até à exaustão. E pelo meio vou dizendo, vezes sem conta: "... Se eu tivesse falado contigo primeiro tu nunca terias deixado. Jamais concordarias".

A conversa do jantar resume-se a perguntas triviais e a respostas monossilábicas. Ele não toca no assunto espelho. E eu sinto que é melhor assim.

O ambiente está nitidamente pesado.

E o resto da noite segue o mesmo caminho.

Sábado de manhã.

Depois de várias horas passadas sobre os anteriores acontecimentos, penso que está na hora de tocar na ferida e ver se dói menos. E pergunto: "Gostaste do espelho?".

Segue-se um longo suspiro do outro lado.

Mas finalmente ouço-o falar: "Não te posso dizer que o espelho não está bonito, porque está. Mas não me sinto confortável com esse espelho cá em casa".

Pelo meio de muitas outras coisas que foi dizendo, acrescentou que se quisesse o espelho pendurado, que o pendurasse eu, ou que pedisse ao meu pai.

Imaginava o trabalho que eu tinha tido, mas, segundo ele, eu não tinha tido o cuidado de fazer um trabalho perfeito. Fui precipitada e comecei pelo fim.

Um trabalho perfeito era ter embebido em Cuprinol ou em Xilophene todas as estruturas de madeira para fazer a prevenção do bicho.

Mas em vez de eu ter começado pela prevenção, comecei pelos acabamentos. Mesmo à gaja!

Eu dou a mão à palmatória. Concordo que esse teria sido um trabalho realmente mais bem feito. Mas eu estou disposta a voltar atrás. Tudo para ficar com o espelho. Mesmo que isso implique deitar para o lixo aquilo que me custou dias a fazer.

Sábado à tarde.

Decido embeber o espelho em veneno e enrolo-o em plástico. Monto-lhe um quartinho altamente tóxico.

Ontem, confirmei que a pintura não estava estragada.

O P., entretanto, já está mais calmo. E já me perguntou onde é que eu quero o espelho pendurado. Isto era tudo quanto eu queria e precisava ouvir :)

Eu aponto para o sítio. E ele responde: "O quê? Aí? Ainda por cima em frente ao sofá para eu ter de levar com o espelho a toda a hora?!

Rimo-nos os dois. Até parece vingança, mas não é. :P

Quando ele estiver fixado na parede, naquele lugar que tinha pensado para ele, eu mostro.

Beijinhos e obrigada por terem estado aí a dar força :)

11 comentários:

  1. Tudo está bem quando acaba bem!!!

    ResponderEliminar
  2. Ai essa sensação de alívio, quando finalmente enfrentamos a fera e vencemos a luta, hahaha...

    Pode ser engraçado, claro que sim, mas estes episódios são extremamente desgastantes e com o passar dos anos ... há horas em que já não tenho pachorra, rsrsrsrs...

    Boa semaninha com espelho novo :)

    ResponderEliminar
  3. O espelho não cabe no teu congelador?
    Era uma ideia...

    Poça, que ele ficou mesmo chateado...!

    Beijo e boa semana

    ResponderEliminar
  4. Oi Luarte,
    ainda bem que a história do espelho acabou bem! Estava ficando tensa até o meio dela.
    Adorei o seu blog e estou seguindo vc. Ficarei muito feliz se vc tb me seguir.
    Estou sorteando um colar com pedra da sorte, vou gostar muito se vc participar.
    Beijos 1000 e uma ótima semana para vc.

    http://www.gosto-disto.com/2011/07/sorteio-da-pedra-da-sorte-luck-stones.html

    ResponderEliminar
  5. Carla: O espelho parece pequeno na foto, mas não é tanto assim. Precisava de ter uma arca congeladora grande e sem gavetas para o pôr a congelar :P

    Obrigada a todas vocês que acompanharam esta novela***

    ResponderEliminar
  6. Já estava a ficar preocupada :) Ainda bem que acabou por correr bem!

    ResponderEliminar
  7. Olá Luarte,a ainda bem que o teu marido teve o bom senso de te deixar ficar com o espelho, além de teres começado o fim de semana de " costas voltadas contigo".

    Beijos

    P.S. A minha patroa disse- me que com petrol também dá passar por cima do móvel e nos buracos.

    Vou numa destas semanas experimentar numa cabeceira antiga que está na casa dos meus pais e que eu quero ficar com ela.

    ResponderEliminar
  8. Eheheh, eu sei bem o que é ouvir o que tu ouviste... mas antes que ele pergunte onde é que vou colocar isto ou aquilo, eu mesma coloco logo!

    Ainda bem que ficaram com o espelho, seria uma pena voltar a guardá-lo na garagem.

    Beijinhos

    ResponderEliminar
  9. Eheh! Ele também se mantém firme :)

    ResponderEliminar
  10. Mete lá a foto que está tudo ansioso... ;)

    ResponderEliminar

Obrigada pela visita e pelo vosso comentário :)