quarta-feira, 3 de junho de 2015

Eu e a minha infertilidade



 
Estudos atuais têm demonstrado que aproximadamente 20% dos casais, ou seja, um em cada cinco casais, apresentam problemas de infertilidade.

Ora na roleta da sorte haveria de me calhar na rifa fazer parte dos tais 20%. Só não acerto no euromilhões porque não jogo ;)

Foi há 2 anos que escrevi e partilhei aqui a minha história com a endometriose.

Nestes 7 anos de diagnóstico a endometriose ensinou-me imenso. Ensinou-me a dar mais valor a umas coisas e a relativizar outras. Ensinou-me a cuidar muito mais da minha saúde e de tudo o que tenho e prezo. Ensinou-me a ter mais coragem do que medo. Ensinou-me a ser mais forte.

Antes mesmo de planear ter filhos, a minha endometriose profunda trouxe-me a experiência da infertilidade na primeira pessoa.
Não sei o que é tentar engravidar e não conseguir. Só conheço a experiência contrária. A de passar a saber que tenho dificuldades reais, que uma gravidez espontânea estaria fora de questão, e a de reunir todos os esforços para conseguir ultrapassar essas barreiras naturais.

E foi assim que entrámos no universo dos tratamentos de infertilidade, antecipando o projeto de sermos pais. A verdade é que ninguém sabe quanto deseja ter um filho até ser confrontado com a impossibilidade de o ter. Nessa altura os meus planos, as conversas, a minha cabeça passaram a girar obsessivamente à volta do mesmo. Ter filhos passou a ser a coisa mais importante, a minha prioridade, o meu foco.  A minha vida ficou suspensa, a flutuar como aquelas bolas gigantes de sabão. 

Agora a uma certa distância desse período da minha vida, já com outra visão sobre os acontecimentos, a sensação que tenho é que foram 4 anos em que perdi o norte, andei à deriva.

Fui prisioneira de sentimentos que me controlaram. Fui cativa de muitas horas e dias de angústia, tristeza e desilusão. Não fui boa pessoa em muitos momentos. Senti-me incompreendida, fui egoísta, egocêntrica. Cheguei a ser dramática. Porquê eu? Como se o universo conspirasse contra mim. Passou a ser difícil sentir alegria genuína e autêntica quando recebia a notícia de mais uma gravidez de uma amiga, familiar, conhecida… havia sempre um misto de frustração à mistura, ainda que desejasse tudo de bom a essa pessoa. Não me identifico com aquela que fui nesses momentos. Foi uma fase difícil, feita de esperanças a cada novo tratamento, de grande desgaste físico e psicológico, de várias derrotas. Foi penoso e violento. Só quem passa por aqui sabe realmente do que falo. Os restantes poderão imaginar...

Para lá de tudo isso, existiam questões de saúde. Depois de tudo o que já me aconteceu, agradeço com genuína alegria a oportunidade do milagre que é estar cá a viver esta experiência absolutamente incrível que é existir. Prezo muito a minha saúde, a minha vida acima de tudo.

A tristeza de não conseguir engravidar foi-se pouco tempo depois de eu e o P. decidirmos não avançar para mais nenhum tratamento de infertilidade, assumindo as consequências evidentes dessa opção. Não voltar aos tratamentos seria fechar qualquer possibilidade de sermos pais biológicos. 

Poderia ficar pendurada na eterna dúvida, então e se tivesse tentado pelo menos mais uma vez, talvez, se calhar... É difícil não nos deixarmos engolir pela espiral de acontecimentos e sentimentos que vivemos na fase em que nos entregamos a isto. Facilmente caímos num ciclo vicioso. Mas não, não vivo nessa dúvida. Não me arrependo dessa escolha que fizemos há 3 anos.

Hoje digo, sem remorsos ou culpas, que esta decisão acabou por ser uma libertação. Um alívio para bem da minha saúde, do meu espírito, da minha sanidade mental. Quero muito ser mãe, mas não quero ser mãe a qualquer preço.

Pegando num excerto de um poema de José Régio sinto que… a minha vida é um vendaval que se soltou/ é uma onda que se alevantou/ é um átomo a mais que se animou… /não sei por onde vou, não sei para onde vou – sei que não vou por aí!

Reconciliei-me essencialmente comigo. Precisava disso, de voltar a mim, de me voltar a sintonizar com a vida e com a pessoa que sou.

Porque sei que sou realmente feliz com a vida que tenho. Gosto da vida que tenho com a infertilidade lá dentro e com tudo a que tenho direito. A minha vida enche-me e preenche-me. Por isso nunca a senti vazia, nunca senti esta casa vazia. Não sei se serei mais feliz tendo um filho, mas sei que a minha felicidade não depende disso. Não me sinto incompleta. Não me sinto beliscada na minha condição de mulher.

A infertilidade não é um drama. As coisas só são aquilo que nós deixamos que elas sejam. Não me destruiu sonhos, apenas me alterou ligeiramente os planos porque a minha vontade de ter filhos, de ser mãe não desapareceu. Não desisti. Não desistimos. Mas hoje, mais madura e auto-consciente das minhas escolhas, sinto-me tranquila, serena e sem pressas, como sempre imaginei que tudo isto deveria ser.

Hoje sei que nada é por acaso. Nada. Nada do que nos acontece, acontece sem motivo. Por isso, gosto de pensar que os planos que a vida tem para mim são maiores do que os meus sonhos.

Não sei se alguma vez sentiria o desejo maior de adotar se a infertilidade não me tivesse batido à porta. Não sei responder...

Mas hoje sei que quero muito ser mãe de coração. Adotar não é a minha segunda opção, é a minha opção. A opção que escolhi, aquela que tantas vezes me faz esquecer do motivo que me trouxe até aqui.

A minha barriga há muito que mora no meu coração em perpétuo batimento. 

Tum tum, tum tum, tum tum. É a voz, é o som, é a música do amor.

Porque é amor, tudo quanto tenho para dar a esse filho que um dia há de chegar.

66 comentários:

  1. Fiquei comovida e sem grandes palavras para te dizer. Só sei que quem nascer do teu coração, será muito feliz, de certeza.

    Bjs

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    1. A infertilidade é um assunto que já está muito bem resolvido no meu coração :)
      Obrigada pelas tuas palavras.
      Beijinho grande :)

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  2. Tenho um grupo de amigas especiais se quiseres lá estar diz-me bjinhos

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    1. Faço há muito parte de alguns grupos sobre infertilidade e endometriose.
      Beijinho :)

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  3. Não conheci a infertilidade propriamente dita, mas senti na pele o stress de passar 2 anos certinhos até conseguir engravidar. Posso dizer-te que é por essa razão que tenho só uma filha, eu não conseguia passar novamente por toda a frustração. Por isso compreendo a obsessão e o egocentrismo e o porquê eu. Admiro-te mais pela tua resolução e o estado de espírito atual. Tenho a certeza que o teu desejo se vai realizar. Beijo

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    1. Obrigada pelas tuas palavras e pelo teu testemunho.
      Beijinho

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  4. Olá :) também faço parte de clube....não foi fácil lidar com a infertilidade, não o é para ninguém...não são fáceis o tratamentos falhados, principalmente quando não se está preparado para falhar... e eu não estava de todo, iniciei o primeiro tratamento cheia de confiança e foi duro quando não deu certo...fiz o segundo e o terceiro e também não resultaram... ainda agendei o quarto, mas uma semana antes de o iniciar, telefonei para o hospital a cancelar....já não aguentava o esforço físico,psicológico e financeiro....estava a dar cabo de mim e da minha vida....já lá vão 15 anos e não me arrependo da decisão que tomei! desejo-te muita sorte quando decidires adoptar, eu por vários motivos tive de deixar essa opção de parte...

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    1. Optar por não ter filhos é um caminho tão legítimo como qualquer outro. O que não faltam são exemplos de casais sem filhos tão ou mais felizes que outros que os têm.
      Beijinhos e tudo de bom para ti, Maria :)

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  5. Há-de chegar sim! E ele/a terá muita sorte na mãe que o/a vai escolher e acolher! Felizmente eu não passei por isso, foi fácil engravidar (tenho 3) e todos os dias agradeço a Deus por isso. Mas tenho 2 primas que há anos que tentam e nunca conseguiram. Acharam que seria fácil, que seria quando elas quisessem, mas esqueceram-se que a idade não perdoa e quanto mais tarde pior. Uma já desistiu. A outra vai tentando. E também tenho uma amiga que passou anos e anos a tentar e nunca conseguiu. Por fim resolveu adotar e algum tempo depois eis que, de repente, engravidou! E é assim. Nunca sabemos o que a vida nos reserva! O importante é que as surpresas da vida sejam boas ou pelo menos que saibamos retirar delas uma mensagem positiva. Um abraço apertado

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    1. A vida é uma caixinha de surpresas. Há que tentar ver sempre o lado positivo daquilo que nos acontece. Obrigada pelo comentário.
      Beijinho bom

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  6. Luarte, fazes muito bem em pensar assim, com certeza que irás ser uma mãe fantástica, não interessa se biológica ou não, interessa é que tens muito amor para dar a uma criança, e vai ser especial por ser a tua. Sê feliz e força com essa opção.
    Beijinhos

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  7. Ola Luarte. A vida e engracada e eu explico porque digo isto. Tinha eu 8 anos quando ouvi na radio que um casal de gemeos tinha ficado orfao. Isto passou-se em Angola na Guerra da independencia e os pais destas criancas foram mortos em tiroteios. Lembro-me de na altura ter nascido em mim o desejo de adoptar, muito antes de pensar em ser mae. Lembro-me de pedir aos meus pais que adoptasse-mos aquelas criancas e me ter sido explicado quais as razoes porque tal nao era possivel. Desde entao sempre disse que tivesse eu os filhos biologicos que tivesse gostava muito de adoptar, de dar colinho a uma das muitas criancas que nao o teem. Ja adulta tive o desejo de ter 6 filhos. O destino deu-me duas filhas num intervalo de 18 anos. Tambem o destino nao quis que eu adoptasse. A vida nao correu como eu pensava e infelizmente o meu tempo passou. Por isso o meu imenso desejo de ser mae de coracao ficou na lista dos sonhos por realizar. Faz-me triste porque sei que poderia ter feito a diferenca na vida de alguma crianca mas como acima disse o destino assim nao quis. Beijinhos, Cristina xxx

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    1. Obrigada Cristina pela partilha da sua história.
      Cada vez acredito mais nos desígnios do destino :)
      Beijinhos e muitas felicidades para esse lado.

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  8. Uma opção muito madura e inteligente Luarte. Esse dia há-de chegar e esse filho há-de preencher-te e esse amor há-de ser maravilhoso. Bjinhos

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    1. Olá Gaja Maria!
      Eu já sou uma rapariga muito preenchida. Como disse no post eu não me sinto incompleta.
      Obrigada pelas tuas palavras.
      Beijinhos

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  9. Felicidades Luarte, demonstra ser uma pessoa muito íntegra e muito generosa, merece muito ser Feliz, e vai ser! ;)
    Em relação ao post anterior, da receita de salmão, não queria deixar de dizer-lhe que mais uma vez segui a sua sugestão e claro, não dececionou, pelo contrário, ficou uma receita das preferidas, simples e soborosa! A repetir :)
    Um beijinho,
    Ana

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    1. Obrigada Anamar!
      Eu já sou muito feliz e espero acima de tudo conseguir fazer feliz a minha criança (porque todas as crianças merecem o melhor do mundo).
      Obrigada pelo feedback da receita do salmão. Fico muito contente que aí em casa tenham gostado :)
      Beijinhos

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  10. Pois eu estou no mesmo barco, num barco que anda à deriva, sem saber o que fazer. Beijinhos.

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    1. Espero que encontres muito em breve o teu norte. O importante é não te deixares engolir pelo chamado "monstro" da infertilidade.
      Beijinhos e tudo de bom para esse lado.

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  11. Luarte pessoalmente não te conheço, mas sei que és uma lutadora e esse tenho a certeza que vais ser uma mãe magnifica e vão ser felizes todos juntos, porque o importante mesmo é estarmos felizes connosco mesmo para ensinarmos os outros a serem felizes!
    Beijinho grande

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    1. Olá Márcia! :)
      Acredito inteiramente que só conseguimos fazer o outro feliz quando estamos felizes.
      Beijinho grande

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    2. Bem verdade, neste momento ando a ler um livro (sou mãe já há 7 anos) " Crianças Felizes" e estou sempre a aprender coisas novas, até contigo:) Faz bem termos estes contactos com pessoas, a mim pelo menos faz, vou-me sentindo ajudada e tu util :)
      Beijinhos

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  12. Parabéns Luarte! Pela tua decisão de não desistires de ser pessoa, de ser gente e de ser mãe também.
    Eu também sofro de infertilidade, os meus tratamentos correram bem, já as gravidezes não correram assim tão bem... 3 tratamentos = 3 gravidezes = 2 filhos vivos e 2 filhos no céu...
    E depois de passar pela infertilidade só mesmo a perda gestacional (no 3º trimestre)pode ser pior... pior que não conceber um filho é perder um filho... sem dúvida!!!
    A tua resolução de adoptares é de louvar e posso dizer-te que é um caminho (por vezes longo) mas que a recompensa é enorme... tenho 2 casais muito próximos que também adoptaram e não podiam estar mais felizes... eles e os filhos!!!
    Muito boa sorte para o que se aproxima!

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    1. Olá Carla!
      Muito obrigada pela partilha da tua história.
      Ao ler-te só me vem à lembrança aquilo que eu pensava tantas vezes durante a fase dos meus tratamentos. Pior que passar pela infertilidade, é passar pela infertilidade e perder um filho. Por isso no mais íntimo de mim, desejei nunca conseguir engravidar caso o desfecho fosse a perda. Deve ser uma dor indescritível. Felizmente nunca passei por isso. Admiro muito a tua coragem em depois disso ainda teres vontade e força para voltar a lutar.
      Mereces que a vida seja muito generosa contigo.
      Beijinho grande

      Hoje sei

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  13. Palavras bonitas... algumas tristes, mas que já foram ultrapassadas e isso é o mais importante :)
    Parabéns :) Parabéns por essa decisão de adotar :) É uma decisão muito bonita e espero que tudo corra muito bem :)

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    1. Olá Sandra!
      As palavras tristes fazem parte do passado. Hoje não guardo quaisquer ressentimentos por fazer parte do grupo da infertilidade. É um luto que já fiz.
      Foi graças à infertilidade que hoje estou no caminho da adoção.
      Espero estar à altura do maior desafio da minha vida.
      Beijinhos

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  14. Oh Lu.... Sem palavras! Fiquei comovida e tu sabes a minha história, não fosse sei lá eu como, o meu modo de vida seria como o teu e a adopção nunca ficou para trás. Ainda hoje penso nisso. Existe tanta criança que precisa de colo e de mimo sem pedir mais nada em troca.
    De coração ou não tenho a certeza que serás uma excelente mãe.
    Um beijinho muito grande

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    1. Olá querida Lúcia! :)
      Muito do que aqui escrevi já tu sabes de cor e salteado.
      Agradeço hoje e sempre as tuas palavras de apoio de carinho.
      Beijinhos grandes

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  15. Olá. Eu só tenho de lhe desejar tudo de bom e as maiores felicidades no seu percurso futuro. Acabei de ler um dos melhores resumos de historia de vida de quem é infertil. Eu não sou... e tive dois filhos lindos! Não posso dizer que faria isto ou aquilo se estivesse no seu lugar, mas há muito tempo, depois de ouvir muitos relatos de mulheres inferteis, que penso que se estivesse nesse lugar tambem optaria por não fazer tratamentos, era porque não estava destinado para mim... mas isto sou eu a falar sem estar desse lado!
    Um beijinho grande e força! Está no caminho certo, e mãe é quem cria e não quem pariu!

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    1. Muito obrigada pelas palavras de força e coragem.
      Beijinho grande

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  16. Que post maravilhoso Luarte. Eu também luto com a infertilidade, embora esteja numa fase diferente do processo e apreciei imenso a tua capacidade de olhar para trás com um olhar positivo, que acolhe a vida como um todo, com a infertilidade lá dentro. Se quiseres espreitar, escrevi aqui sobre o que tenho sentido a este respeito: http://acasados30.blogspot.pt/2015/05/a-espera.html
    Um beijinho e muitas felicidades para a adoção.

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    1. Obrigada por me dares a conhecer o teu post.
      Gostei tanto do que li e identifiquei-me tanto com as palavras que escreveste.
      Obrigada, obrigada, obrigada.
      Um beijinho muito grande e que o teu coração encontre sempre a paz e a tranquilidade nessa espera.

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  17. Olá Luarte
    Felizmente tmabém faço parte desse clube... Felizmente? perguntam, sim mas eu explico.
    Em toda a minha vida eu adorei e adoro crianças, bebes e afins. Quando era jiovem num jogo que existe aqui no Norte, deitar uma agulha presa por um fio em cima da palma da mão, não sei se conhece, nesse dito jogo da agulha, teria 3 filhos, 2 meninas e um menino, e eu dizia sempre mais 3 que hei-de adotar, claro que todos se riam pensando que era louca.
    Casei há 21 anos e desde logo queria ter filhos, pois casei com 28 anos, era o sonho mas qe a pouco e pouco se foi tornando pesadelo. Tratamento e mais tratamento sem resultados, foram tempos complicados, dificeis, etc.( Tal como a Luarte sabe) Um dia disse ao meu marido, acabou! vou adotar uma criança, creio que nessa ocasião o meu marido concordou comigo mais para eu ficar calma, mas assim fiz.
    Ano e meio depois, FELIZMENTE apareceu na minha vida o meu filhote Francisco, com 3 anos de idade. (O N/processo de adoção não foi muito demorado porque não me importava saber o sexo da criança e não tinha que ser bebé).
    Já faz 14 anos que sou mãe de alma e coração, não me lembro NUNCA que o Francisco não foi gerado por mim, não me lembro NUNCA que o Francisco não é do meu sangue, como alguns familiares gostam de sublinhar. Enfim sou uma mãe orgulhosa do meu rebento com tantas outras.
    O Franscisco sabe que é adotado mas isso não mudou nada na nossa vida, no nosso amor. O Franscisco é um adolescente igual a tantos outros, que tem sempre os pais presentes para ele. Somos uma familia feliz e com muito orgulho no nosso filhote.
    Infelizmente a vida não nos "deixou" adotar mais nenhum, mas adotar o Francisco foi a melhor decisão da minha vida.
    Luarte vá em frente, a vida dá uma volta de 360º mas para muito, muito melhor.
    Felicidades.
    Bjs

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    1. Olá Dulce!
      Muito obrigada pelo seu testemunho tão feliz e tão cheio de esperança para quem como eu ainda espera realizar o desejo da maternidade.
      Queira saber que no famoso jogo da agulha sai-me sempre o resultado de 3 filhos :) Vá-se lá saber como!!!!
      Em agosto deste ano farão 3 anos que estamos à espera de adotar uma criança. Tal como a Dulce, não faço questão que seja bebé (embora tenhamos colocado o limite de 4 anos de idade), nem tenho preferência pelo género.
      Sempre vi o ato de adotar como o maior ato de amor e compromisso, nobreza e grandeza do ser humano. Quero muito, muito conseguir dar todo esse amor e felicidade a uma criança. Espero nunca falhar e ser capaz de dar o melhor de mim em todos os momentos. Para mim, numa verdadeira relação de vinculação, de afetos e amor os laços de sangue são o que menos importa.
      Beijinhos grandes e continuação de muitas felicidades.


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  18. Sei como te sentes.
    Foi "graças" a essa maldita endometriose qua a minha filha lutou durante anos, mas foi também graças a ela que um dos tratamentos deu certo e nasceram os gémeos. Não sei se tens dores, mas ainda hoje a Lúcia vai muitas vezes para a urgencia do hospital, já foi operada mas de nada valeu. Durante uns tempos esteve bem, depois voltaram todos esses caroços que incomodam, que doem que destroem vidas. Ela tambem pensou na adopção mas aind aeram novos para entrar com o processo, mesmo agora com os gémeos e já passado 4 anos essa ipotese ainda anda a amadurecer, quem sabe um dia eu tenha mais algum neto, não gerado na barriga dela, mas numa outra qualquer, tanto faz será amado na mesma. Desejo-vos muito muito boa sorte. Bjos Pinta

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    1. Olá Pinta!
      Felizmente não tenho dores. Até me esqueço que tenho a doença. É muito importante que a tua filha seja acompanhada por um bom especialista na doença. Não basta ser ginecologista. A doença não para e precisa de ser muito bem controlada.
      Obrigada pelas tuas palavras e pela partilha.
      Um beijinho

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  19. Sou leitora mas quase nunca comento!
    Hoje não aguento...
    A partir de hoje passo a admirar-te ainda mais!!

    Beijinhos Cláudia

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    1. Obrigada Cláudia por tamanha manifestação de carinho :)
      Beijinhos

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  20. Hola, Luarte,
    Sei bem o que é uma endometriose, sou uma endo-sofredora.
    Graças a Deus tenho 3 filhos, mas fiz muitos tratamentos hormonais, muitos exames, toda uma novela até que diagnosticaram a doença. Só quem tem, e luta com ela todos os dias sabe a dor e os incômodos. Eu hoje em dia, optei por um tratamento natural prá diminuir os sintomas, uso Vitex .Mas como você disse, sempre aprendemos algo nessas situações.O importante é não desistir nunca, se dar por vencida, parar a vida. E se Deus colocou no seu coração o desejo de ser mãe, seu filho chegará.
    Besitos e tenha um restinho de semana abençoado.

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  21. Olá Luarte,
    revejo-me tanto naquilo que escreveste...também eu faço parte desses 20% e do grupo da endometriose, têm sido anos difíceis, tratamentos, cirurgias... muita dor física e psicológica, como alguém escreveu o meu barco também ainda anda um pouco à deriva. Espero um dia encontrar a mesma serinidade que transmites neste post! Admiro-te imenso e só te posso desejar um futuro sorridente e tudo de bom!
    Beijinhos,
    Su

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    1. Olá Su! :)
      Conheço a tua história e o teu caminho que não tem sido fácil.
      Uma das coisas que sempre tive medo era a de entrar em depressão, em me tornar uma pessoa triste, amargurada...
      Hoje em dia a infertilidade faz parte da minha vida, como fazem tantas outras coisas, com a mesma naturalidade. Já não é um papão que me dê medo, que me cause prurido, vergonha de dizer que não não temos filhos porque somos inférteis. Acabaram-se as perguntas incómodas e que tantas vezes feriram. As pessoas mais próximas, familiares, amigos e até alguns conhecidos sabem do nosso problema. É um alívio em todos os sentidos. Ter a cabeça bem resolvida é o passo mais importante para percebermos até onde queremos ir. É isso que dá serenidade. É por isso que não me sinto ansiosa nesta nova espera. O meu filho há de chegar a seu tempo :)
      Beijinho cheio de carinho para esse lado.

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  22. Estou a tentar segurar as lágrimas. E não são de tristeza. São de admiração. Pela tua força, pela tua garra, por teres coragem de dar a volta àquilo que te podia ter destruído. Por seres sabiamente feliz. Obrigada pela partilha e pela inspiração. E desejo que sejas feliz, todos os dias da tua vida. Beijinhos

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  23. Daqui à distância consigo ver tão claramente a aceitação plena e leio na perfeição a tua tranquilidade, a leveza da tua alma e a consciência livre de quem já sofreu e simplesmente decidiu que não quer sofrer mais.
    Este tipo de percurso não é para qualquer um. Só alguém muito especial consegue ter esta atitude perante a doença e a adversidade.
    Ao pé de ti sinto-me ainda muito pequenina, muito “verde”. Apesar de pertencer ao grupo dos tais 20% e de ter passado pela fase da frustração de não conseguir engravidar, de fazer exames e mais exames até se diagnosticar o problema e depois de ter passado pela espera (ai a espera…), depois a fase dos tratamentos falhados,… hoje tenho nos braços uma bebé que gerei na minha barriga e apesar do desfecho feliz estou menos resolvida em relação à questão da infertilidade que tu.
    O futuro reserva-te grandes coisas, sei-o no meu âmago, mas para quê estar a pensar já no futuro se no presente existem tantas coisas boas para viver e para valorizar? :D Tenho tanto a aprender contigo! Bem-hajas, Luarte!
    Para ti que és uma pessoa tão especial deixo-te um beijinho enorme e um abraço daqueles bem apertados.

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    1. Estavas mesmo inspirada neste teu comentário, querida Sara :)
      Um beijinho muito especial para ti.

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  24. Eu aqui leio te com muita admiração ,e orgulho por este teu percurso .
    Diga se que daqui de tão longe ,vejo te sempre como um SER de LUZ com uma consciencia muito elevada .
    Valeu o percurso minha amiga ,valeu tudo , porque depois destas escadas todas que subiste ,estás num ponto que a luz já aparece , e se aparece .
    Aceitar e evoluir ,deixar sentir ,porque tudo passa .
    Sim ,Deus tem planos para ti maiores do que os teus sonhos .
    Porque vocês os dois merecem o melhor ,e tem tanto para dar e receber .
    Tum,tum ,tum tum .......o dia há de chegar
    Gosto muito muito de ti .....
    abraço apertadinho
    Lulu

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    1. Que as contrariedades da vida nunca me toldem a razão e me fechem o coração para o que há de vir ;)
      Um beijinho especial

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  25. Parabéns Luarte e bem haja por esse coração e esse sentir. Cada palavra poderia ter sido escrita por mim!! Passo muitas vezes pelo seu blog mas não costumo fazer comentários, nem no seu, nem em outros... não sei porquê mas o que é certo é que se os que frequento assiduamente, é porque os aprecio imenso. Mas hoje tinha que dizer-lhe que a admiro mais ainda porque tal como eu soube soube levar a vida em frente, sem deixar que alguém a faça sentir menos mulher. A vida é uma dádiva e se ela nos dá laranjas doces, fazemos pudim; se nos dá limões, fazemos limonada. Com esse espírito sei que vai conseguir ter um filho de coração já que a isso se propôs mas em todo caso, desejo que de todo a Luarte e o seu companheiro sejam felizes com tudo o que constroem. Um grande Xi coração

    Natália Amaro

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    1. Obrigada Natália!
      Tenho aprendido que as coisas não boas ou más, são aquilo que nós queremos que elas sejam ;) Não guardo ressentimentos, mágoas por isto. Acredito que existe um outro propósito :)
      Beijinho e muito obrigada pelo comentário :)

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  26. este texto emocionou-me. desejo lhe a maior sorte do mundo e muita felicidade porque alguém que encara a vida desta forma apesar de todas as adversidades bem merece o "silver lining ". é uma mulher com M grande*

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  27. Leio-te há pouco tempo e não sabia ainda. Hoje tenho dois filhos que são a minha vida, mas para chegar até aqui foi um caminho de dor e muito assim como descreves acima. levei quatro anos a tentar ter a 1ª, dois anos até engravidar, uma perda e outros dois anos para uma nova gravidez e fui mãe. O segundo, veio 3 anos depois, na primeira tentativa. O nosso corpo por vezes surpreende-nos. Fico feliz por saber que não carregas esse peso no peito e que aceitas-te o que te foi reservado, porque viver com a frustração dá mesmo cabo de nós. um beijinho grande.

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    1. Obrigada pela partilha pessoal.
      Não vivo de comiserações. Este é um assunto que está muito bem resolvido no meu coração, sem mágoas ou frustrações.
      Beijinhos

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  28. Olá Luarte!

    Como existem casais afetados, não é? Também passei pelo mesmo... 3 microinjecoes in Vitor falhadas, muitas lágrimas, 4,5 anos de desespero. Quando ia partir para a 4ª tentativa, já tinha a Luísa na minha barriga.
    Foram também mais de 4 anos à espera da adoção, mas finalmente, a minha assistente social confessou-me que estávamos a ser passados para trás, porque davam prioridade aos casais sem filhos. Desistimos...
    Olhando para trás, lembro-me de caminhos muito tortuosos. Profissionais de saúde insensíveis, conhecidos com perguntas completamente descabidas e que magoavam imenso, curiosidades mórbidas que nos atropelavam... foi muito difícil lidar com essa situação.
    Lembro-me de uma amiga me oferecer um livro sobre infertilidade. Quando acabei de ler, ela perguntou-me se eu tinha gostado. Eu disse que sim, mas que achava que quem deveria ler eram as pessoas que conhecem quem esteja a passar pela situação. É assim foi. Há tanta ignorância e insensibilidade à nossa volta...

    À minha volta, dos vários familiares e amigos que passaram por isto, todos tiveram finais felizes, de barriga ou de coração, somos todos famílias completas e radiantes. A sua vez chegará! E que criança feliz será!!
    Beijocas grandes.

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    1. Obrigada pelo seu testemunho.
      Espero serenamente a minha vez de ser mãe. Não tenho pressas, não vivo ansiosa, mas calma e tranquila.
      Como em tudo na vida é preciso ter sorte e também sabermos fazer a nossa sorte.
      Espero estar a altura do maior desafio da minha vida quando ele chegar.
      Beijinhos

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  29. Nõa é fácil, nunca foi, não sei se algum dia será.
    Sou mãe de três mas já passe pelo mesmo. 4 anos e meio a tentar o primeiro, 3 anos a tentar a segunda e sem saber como (a tomar a pílula) fui abençoada com o terceiro.
    Mas sei o que dói, o que custa fazer um sorriso e dizer parabéns quando cá dentro dói.
    Sei o que é viver de mês para mês, de tratamento em tratamento.
    Ainda hoje, já com os meus, às vezes, se pensar dói. Mas é uma dor com a qual já fiz as pazes.
    Bjs e tudo de bom
    Nany

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    1. Olá Nany!
      Ainda bem que já fez as pazes com a vida.
      Eu não sou pessoa de me consumir com aquilo que não controlo. A vida tem coisas maravilhosas e a verdade é que seria um desperdício se ficasse agarrada a um projeto/sonho que de alguma forma me estava a tornar uma pessoa mais triste e deprimida.
      A vida não é uma fábrica de realizar sonhos. Somos nós que temos de procurar ser felizes à nossa maneira, com o que temos.
      Espero que nunca me falte esta lucidez no longo caminho que espero ter pela frente.
      Beijinhos e tudo de bom para esse lado.

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  30. Imagino que o caminho não tenha sido fácil mas felizmente tiveste a força e a coragem de tomar as rédeas da tua vida, mesmo quando ela teimou em baralhar-te os planos. É muito importante teres consciência do caminho que nos descreves. A verdade é que a nossa vida é assim mesmo (ou pelo menos é como eu a encaro): vamos adaptando-nos e mudando as nossas motivações ao longo do tempo e apesar de terem uma razão (boa ou má), não temos de nos lembrar sempre dela porque num determinado momento escolhemos seguir um certo caminho, decidimos e aceitamos as nossas escolhas/opções. Assim, as coisas são naturais e as opções que tomámos são mais nossas, fazendo-nos esquecer que porventura o que fez com que as tomássemos foi algo que não queríamos à partida ou que foi menos bom. O que importa é tomarmos como nossas as decisões e abraçá-las genuinamente.
    Admiro o percurso que fizeste. Muita força para realizares os novos sonhos que tens, porque são esses que interessam! :) Beijinhos

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    1. É tão verdade aquilo que escreveste. A vida e tudo aquilo que ela nos mostra faz-nos mudar as nossas motivações, faz-nos rever e repensar projetos. Ensina-nos acima de tudo que está nas nossas mãos querermos ou não ser felizes.
      Nós pudemos não controlar muito daquilo que nos acontece, mas depende inteiramente de nós a forma como vivemos e lidamos com aquilo que nos acontece.
      Beijinhos e obrigada pelas tuas palavras :)

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  31. cantinhodacasa23 agosto, 2015 17:57

    Um exemplo de que é uma grande pessoa.

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  32. Luarte, navegando na net procurando algo sobre endometriose descobri seu blog. Esse seu texto falou muito dentro de mim, que assim como você não sentia um desespero por ser mãe, mas ao parar o remédio e não engravidar, começou a busca por respostas e adivinha? A danada da endometriose!! Passei por esse período obscuro que é se sentir impotente, questionar a vida e tal. Mas de uns tempos tenho trabalhado minha cabeça e aos poucos tudo vai se acalmando dentro de mim, foi quando me peguei me questionando se alguma vez eu achei que só seria completa se tivesse um filho, e a resposta dentro de mim me disse não. Na verdade sempre senti uma ponta de estranheza por não sentir vontade de ser mãe, então lembrei que não existia um desejo ardente e comecei a ver que se a infertilidade não for reversível eu ainda serei eu mesma. Em suas palavras li meu discurso interno, eu não sou menos mulher porque não posso gerar( pelo menos não por enquanto). Obrigada por compartilhar sua experiência num assunto tão delicado e ainda tão cercado de mitos. Um grande abraço de uma brasileira que não te conhece mas que já está te curtindo muito. ;)

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    1. Obrigada Suiene pelo seu testemunho. Gostei muito de ler as suas palavras e sentir que há muita gente que atravessa a infertilidade de cabeça erguida e com força e coragem para os novos desafios que a vida nos coloca.
      Beijinho grande

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  33. Boa tarde,
    foi na busca de uma imagem para ilustrar um post no nosso blog (somos duas amigas inférteis que criaram um blog como plataforma de ajuda) que descobri este blog e li esta partilha emocionante.
    Temos o blog no WordPress com página para o facebook (http://wordpress.com/post/sonhosinferteis.wordpress.com)
    Podemos partilhar este post no nosso blog para que mais pessoas que passam por isto se identifiquem e saibam que não estão sozinhas?
    Acho que o que sentimos é muito comum, especialmente o silêncio que nos consome.

    Muitas felicidades!

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  34. Olá Peregrina!
    Obrigada pelo comentário.
    A vida escreve sempre certo, mesmo nas linhas tortas, acredita.
    Desejo-vos boa sorte neste árduo caminho que vos levará ao lugar certo, onde a vida vis espera.
    Claro que podem partilhar o texto.
    Escrevi-o na altura com o mesmo propósito.
    Beijinhos :)

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