terça-feira, 18 de agosto de 2015

Açores - Flores

Nesta viagem aos Açores, escolhemos a ilha das Flores como primeira ilha a visitar e a conhecer. 

Na terra mais ocidental da Europa, descobrimos uma ilha pequena, mas extraordinariamente encantadora.

Desde 2009 que a ilha passou a integrar a rede mundial de reserva da biosfera da Unesco. Prémio mais que merecido. As Flores são sinónimo de natureza na sua exuberância mais pura e original. E isso vê-se nos picos e morros que descem até à costa em arribas verticais. Nas várias lagoas escavadas por vulcões e que brilham como jóias engastadas no verde maciço. No murmúrio constante das inúmeras cascatas que saltam do alto das encostas. Nas flores que salpicam de cor toda a ilha. 

É incrível como uma ilha tão pequena tem tanto para conhecer e ver. Os florentinos são gente muito simpática, prestável e afável. Gente muito orgulhosa da sua ilha, como todos os açorianos em geral o são e com razão. 

Para quem aprecia turismo ecológico, a ilha das Flores é assim qualquer coisa de fenomenal.

 Vista para o extremo norte da ilha (Ponta Delgada) e local onde funcionaram as estruturas técnicas da Base Francesa das Flores com a ilha do Corvo ao fundo

 No sopé das altas encostas algumas casas vão pintalgando de branco toda esta paisagem tão verde


Vista para a Fajã Grande e para o ilhéu de Monchique (o pontinho preto no meio do mar), o último pedaço de terra da Europa a ocidente


Moinho de água 

Vale a pena apreciar e disfrutar das vistas para as várias lagoas que se formaram no fundo das crateras vulcânicas.















Entre a Caldeira Comprida e a Caldeira Negra

Um dos mais incríveis postais das Flores é o Poço da Alagoinha, também conhecido por Lagoa das Patas. Quando chegamos o único som que ali se ouve é o chilrear dos pássaros e a água das dezenas de cascatas que fluem para uma única lagoa. A sensação é a de termos chegado ao Éden.

 A caminho do Poço da Alagoinha



Parte da encosta e algumas das cascatas espelhadas na Lagoa

  Poço da Alagoinha


Muito difícil captar um grande plano deste lugar. Estas fotos são apenas peças de um grande puzzle natural e incrivelmente bonito.

Decidimos gastar quase uma tarde por aqui a apreciar e a ouvir apenas e só os sons da natureza. 

As piscinas naturais, escavadas pelo mar na rocha e na lava, num azul e verde tão intensos fazem de imediato apetecer um mergulho. 


Nas piscinas naturais de Santa Cruz das Flores


A temperatura da água é excelente.


Com a Ilha do Corvo ao fundo


Com uns óculos de mergulho conseguimos ver durante muito tempo variadíssimas espécies de peixes multicolores.



Outra boa experiência foi tomar banho debaixo de um chuveiro natural, sob uma queda de água a dezenas de metros acima das nossas cabeças.


Poço do Bacalhau - uma queda de água com cerca de 90 m de altura, que se despenha numa lagoa natural. Com o equipamento de banho nas mochilas estávamos sempre prontos para um mergulhinho apetecível.


 Detalhe de uma parte da Lagoa do Poço do Bacalhau


Numa das praias da ilha (Calheta, em Porto das Lajes das Flores) com a sua areia escura de origem vulcânica

Na localidade da Fajãzinha tivemos o melhor jantar nesta ilha com excelente comida regional. No restaurante "Pôr do Sol", mandámos vir feijão assado em forno de lenha e morcela com batata doce e inhame, acompanhado por um Terras de Lava branco da Ilha do Pico. Fomos comendo enquanto apreciávamos o maravilhoso pôr do sol que entretanto se punha lá fora.


No exterior do restaurante "Pôr do Sol"


No interior do restaurante a luz criava um ambiente tão caseiro e acolhedor





Não muito longe da Fajãzinha encontra-se a aldeia da Cuada, uma aldeia em que as casas de pedra foram remodeladas e mantêm a traça original, mas com o conforto da modernidade no seu interior. Hoje em dia é um aldeamento turístico.




Neste regresso aos Açores assim que tivemos oportunidade mandámos vir as maravilhosas e grandes lapas grelhadas. O que eu gosto disto :)


Por estes dias também vimos a Rocha dos Bordões, fenómeno geológico com cerca de 570 mil anos, que resultou da solidificação de basalto em altas estrias verticais que formaram um curioso morro rodeado do que parecem ser bordões. É também um dos ex-libris da ilha.



Durante os dias que permanecemos na ilha as estradas estavam quase sempre desertas e todos os locais que frequentámos ofereciam paz, sossego e muita tranquilidade. Aliás, uma das coisas que adoro nos Açores é este arquipélago ainda continuar muito à margem do turismo de massas. As Flores e o Corvo, pelo sua situação geográfica são verdadeiros paraísos isolados na Terra. 






Metade da ilha esconde-se no pedestrianismo. Vale a pena gastar sola nas caminhadas, mas infelizmente o nosso tempo era escasso. Ainda assim fizemos em parte alguns dos inúmeros trilhos existentes, mas muito ficou por fazer e ver durante a nossa estadia. 

Nos nossos passeios pedestres rapidamente percebemos porque esta ilha é também conhecida como a ilha esponja. Pisar o solo, caminhar, significa muitas vezes espremer a terra. Nas caminhadas descobre-se muito trilho que mais parece ribeiro ou então muita terra forrada de musgo espesso, que sob a ação do nosso peso, cede, dando lugar a finíssimos cursos de água que escorrem debaixo dos nossos pés. 






No grupo ocidental não há registo de sismos nem de atividade vulcânica desde a sua ocupação. Flores e Corvo são as únicas ilhas açorianas que estão edificadas sobre a placa tectónica americana o que explica a sua estabilidade. O resto do arquipélago encontra-se precisamente na junção de três placas tectónicas: a americana, a africana e a euro-asiática, as quais estão constantemente em movimento, havendo registos de tremores de terra quase diários em algumas das ilhas.

No último dia da nossa viagem tivemos a oportunidade e a felicidade de falar com um padre octogenário e a sua irmã, professora primária reformada, que nos contaram tantas histórias de vida, costumes, dificuldades, dos sismos que viveram nas ilhas do Faial, Pico e Terceira. Lembranças que vinham à tona com tamanha precisão. Detalhes dos locais e das horas onde estavam e o que sentiram quando a terra não parava de tremer durante dias a fio. O senhor padre recordou em pormenor a erupção do vulcão dos Capelinhos, no Faial, aquando da sua passagem por lá. Eu e o P., completamente fascinados e extasiados a beber os relatos dos dois, que à vez, e sem mostras de falhas na memória, nos contavam com elevado entusiasmo as suas vidas e como os florentinos aprenderam e se habituaram a ser um povo desenrascado.

Sofrendo desde sempre dos efeitos do afastamento em relação às restantes ilhas do arquipélago, a ilha das Flores, manteve-se durante séculos, num isolamento, interrompido esporadicamente pela chegada de barcos vindos do Faial e da Terceira. Quer devido a tempestades como à ausência, até há bem pouco tempo, de um porto seguro para aportar, os barcos que abasteciam as ilhas das Flores e Corvo não tinham data certa para chegar e, por isso, desde sempre que os florentinos se habituaram a ser auto-sustentáveis.

Também nós na qualidade de turistas por poucos dias sentimos na pele o tal isolamento insular. Embora tenhamos viajado pela companhia aérea Sata de S. Miguel para as Flores, decidimos que a saída das Flores seria feita de barco, no Express Santorini, que opera de maio a setembro e que assegura as longas rotas marítimas no arquipélago. Seria uma viagem noturna que nos levaria desta ilha para a ilha do Pico. Comprámos os bilhetes pela Atlanticoline com a antecedência devida. Agradou-nos o conceito de gastar uma noite a bordo de um navio que só chega às Flores de 8 em 8 dias. Aliás, a viagem e os nossos dias de estadia foram agendados e programados em função da data da viagem deste barco cruzeiro. 

Na véspera da nossa partida, soubemos que o barco tinha avariado e que se encontrava atracado na Horta (Faial) à espera de segunda-feira para ser arranjado. Voltando a estar operacional, só regressaria às Flores no domingo seguinte. Como???? No domingo seguinte já contávamos estar no continente. E agora? Iríamos ficar mais 8 dias na ilha? A única alternativa para sair das Flores era viajar de avião pela Sata. E arranjar voo numa altura destas? Em pleno mês de agosto o turismo dispara. Os lugares estão esgotados e não fazem voos extra para colmatar falhas nos barcos. Ficámos em lista de espera e a rezar a todos os santinhos que a sorte nos batesse à porta. Tinhamos estadia e carros reservados no Pico e em S. Jorge. Muitas despesas já pagas... Tivemos sorte porque conseguimos lugar no dia seguinte por desistência de dois passageiros. 

  Pôr do sol visto da esplanada do café/restaurante "Maresia" na Fajã Grande


Devido a este isolamento e ao encanto natural das Flores há quem diga que é a ilha mais romântica do arquipélago. Não nego. É de facto uma ilha maravilhosa. Cruzámo-nos com alguns açorianos de S. Miguel e da Terceira que estavam pela primeira vez a visitar as Flores e também eles estavam encantados com a ilha. Penso que isto diz tudo. 

Guardo as Flores no coração como um lugar único, muito especial e que um dia tive o privilégio de conhecer. Na despedida, no exato momento em que o avião levantou voo, não consegui deixar de me emocionar. Quando as pessoas, lugares e coisas bonitas me tocam cá no fundo sou uma piegas.

Informação Adicional (a quem possa interessar):

Voos: Viajámos pela Easyjet até Ponta Delgada (S. Miguel) e aqui apanhámos voo de encaminhamento da Sata para as Flores. 

Neste ano de 2015 as companhias aéreas Ryanair e Easyjet começaram finalmente a oferecer voos low cost  para os Açores, via Ponta Delgada. Já era tempo de existirem voos mais baratos, outras opções para se poder mostrar o que os Açores têm de único e de imperdível, àqueles que desejam conhecer este arquipélago. Estas duas companhias viajam para S. Miguel, mas caso S. Miguel não seja o nosso destino final, a Sata faz o encaminhamento para a ilha destino sem custos adicionais desde que o viajante o faça dentro do prazo de 24h. Ver aqui 

Carro: Em qualquer uma das ilhas é fundamental ter carro para se poder ter autonomia, explorar, descobrir e perder tempo em alguns locais. Nós optámos sempre por essa solução. Pesquisámos os vários rent-a-cars existentes na ilha e escolhemos a gama mais económica ainda disponível e com melhores preços. Nas Flores optámos pela Rent-a-Car Braga & Braga. Reservámos com antecedência e no dia da nossa chegada o nosso carrinho lá estava à nossa espera no aeroporto.

Alojamento: Em termos de estadia optámos pelo mais económico, já que a ideia não é fazer vida de hotel, mas explorar o mundo lá fora. Saindo de manhã cedo e chegando tarde, já depois do jantar, um quarto simples e limpo à nossa espera é tudo quanto baste. Optámos por ficar no Alojamento Particular Malheiros Serpa, num ambiente simples, mas simpático e muito familiar. 


11 comentários:

  1. Não conheço a ilha das Flores! Falta-me apenas essa e o Corvo! Mas sei que é uma ilha lindíssima e as tuas fotos podem comprovar isso! Absolutamente maravilhosas! E o relato também! Sou completamente a favor de ir para fora cá dentro! Os Açores são tão bonitos e por vezes não lhes é dado o devido valor. Qual Maldivas qual quê?! Os Açores são de facto o paraíso no meio do Oceano! Todas as ilhas são bonitas, cada uma à sua maneira! E todo o tempo é pouco para descobrir e apreciar toda esta beleza! E a gastronomia?! Uma delícia! Beijinhos

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  2. Adoro essas fotos, esse post magnifico dessa ilha que deve ser maravilhosa (está na minha lista)!

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  3. Bem, hoje tenho de comentar...que Beleza Incrível!
    E que pessoa generosa que a Laurte é por partilhar connosco estas preciosas dicas.
    Vou guardar religiosamente esta informação pois pretendo viajar até aos Açores no próximo ano, em Fevereiro.
    Bem Haja,
    Um beijinho, Ana

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  4. Que fotos maravilhosas! Fiquei com vontade de conhecer .
    Bjs

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  5. Que lugar encantado , fiquei maravilhada com tanta beleza natural . Nunca fui aos Açores mas com estas fotos terei que ir lá conhecer essa beleza sim !

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  6. Que ilha lindíssima! As tuas fotos revelam tão bem essa beleza! Se não for indiscrição, que máquina fotográfica usam? Tira fotos maravilhosas! Obrigada por estes relatos!Dina.

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    1. Olá Dina!
      Nao é indiscrição nenhuma. Algumas destas fotos foram tiradas com o meu telemóvel um one plus. Tira fotos muito boas em exterior ou num interior que seja bem iluminado. Outras foram tiradas com uma Canono 550d com duas lentes 50mm e 18-55mm. A mais usada foi esta última.
      Beijinhos e obrigada pelo comentário e pelos elogios feitos às fotos. O cenário também ajudou muito no resultado final das mesmas.

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  7. Olá

    Sou das Flores e, volta e meia venho espreitar o teu blog. Hoje tive a agradável surpresa de saber que estiveste na minha ilha e que gostaste :). Gostava só de fazer uma pequena correcção, o Poço que chamaste "Poço da Alagoinha" ou "Poço das Patas" chama-se "Poço" ou "Poço da Ribeira do Ferreiro", "Poço das Patas" é uma designação recente e o "Poço da Alagoinha" não é ali. Este é um assunto que gera alguma confusão mesmo entre os locais e eu, depois de também já ter sido corrigida, investiguei junto de pessoas mais antigas, que tinham terrenos lá, e posso afirmar que tenho a certeza do que estou dizendo.

    No entanto, nomes à parte, fico muito contente que tenhas gostado da ilha, que te tenhas sentido bem recebida... e que o tempo tenha ajudado a abrilhantar as férias :)

    Beijinhos do Ocidente

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  8. Bom dia! Pode informar-me quantos dias acha razoáveis para visitar a Ilha das Flores e qual a melhor altura do ano?
    Obrigada
    Alexandra

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    1. Olá Alexandra!
      Aconselho 3 dias e reserve um 4° para irem ao corvo. Estando tão perto vale a pena. A melhor altura é julho ou agosto para poderem usufruir ao máximo e tomar banho nas piscinas naturais e fazerem trilhos.

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Obrigada pela visita e pelo vosso comentário :)