segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Açores - S. Jorge

E, por fim, seguimos do Pico para S. Jorge.

Apanhámos o barco de S. Roque do Pico para Velas, numa travessia onde ainda avistámos alguns golfinhos ao longe.

S. Jorge é sobretudo conhecida pela ilha das Fajãs. Para quem desconhece o significado do termo fajã, este é geralmente utilizado para designar plataformas costeiras, zonas planas anichadas junto a montes ou colinas com encostas íngremes. 

Uma das fajãs de S. Jorge

A morfologia da ilha de S. Jorge é muito particular. Criada por sucessivas erupções vulcânicas em linha reta, esta ilha apresenta um perfil alongado e bastante estreito, o que a torna única em relação às restantes ilhas do arquipélago. Tem 53 km de comprimento e 8 km de largura, tendo o seu ponto mais alto a 1067 metros de altitude, no Pico da Esperança. É uma ilha escarpada, um gigantesco navio de pedra eternamente mergulhado no mar azul.

Devido ao relevo acentuado da ilha, uma das atividades mais interessantes para se fazer são os trilhos pedestres.  Percorrer a ilha é um itinerário de descoberta. As Fajãs são de uma beleza surpreendente e a tranquilidade dos grandes espaços verdes convidam à descoberta e a uma ligação de estreita e intíma relação com a natureza.

Um dos produtos mais famosos de S. Jorge são os seus queijos. O famoso queijo de S. Jorge.

Mas comecemos por apresentar a vila mais conhecida de S. Jorge, Velas.


De Velas é possível ter-se uma vista desafogada para a ilha do Pico e para a ilha do Faial.


Quando chegámos, vindos do Pico, e porque o final do dia se aproximava, resolvemos pegar no carro e explorarmos a zona da Ponta dos Rosais.

Começámos por conhecer o Farol da Ponta dos Rosais que se situa no extremo noroeste da ilha. Inaugurado em 1964, foi considerado na altura o Farol com as instalações mais modernas em Portugal, com residências para os faroleiros e ainda edifícios de apoio. Foi temporariamente abandonado pouco depois, aquando da crise sísmica dos Rosais e da erupção submarina que ocorreu nas suas proximidades. Passada a crise, permaneceu habitado até ao início de 1980, sendo por essa altura evacuado por motivo de desabamento da falésia, provocado pelo terramoto desse ano. 

Para se chegar ao Farol percorre-se toda uma zona rural com bonitas estradas de terra, ladeadas por flores, muito verde e animais de pasto.






Do alto da antiga vigia da Baleia da Ponta dos Rosais, de onde se tem uma vista privilegiada para o Farol e para as ilhas do Faial, Pico e Graciosa.


Para quem visita a Ponta dos Rosais é obrigatório apreciar o seu Pôr do Sol

Na manhã seguinte decidimos visitar a outra ponta extrema da ilha, onde fica a vila histórica do Topo.

Desta vila conseguimos ver a ilha Terceira. Ao largo encontra-se o famoso ilhéu do Topo, considerado Reserva Natural. Trata-se de uma zona de descanso e nidificação de várias espécies de aves. Além disso alberga também diversas espécies endémicas de fauna e flora.


Pelo caminho fomos parando aqui e ali, apreciando as vistas dos vários miradouros que fomos encontrando. Sobretudo fomos apreciando toda a costa escarpada e as várias fajãs.

Já perto da hora do almoço ainda demos uns mergulhos nas piscinas naturais da Fajã Grande com os seus muitos peixinhos coloridos.



Já no pico da hora do almoço fizemos paragem na Vila da Calheta para almoçar uns filetes de atum no forno. A acompanhar duas Kimas de maracujá. Neste regresso aos Açores foi tempo de matar saudades desta bebida tão refrescante e tão boa. Com muita pena minha, nunca encontrei este refrigerante pelo continente.  Porque será que os açorianos não pensam exportar este suminho tão cheio de fruta? Se porventura conhecerem locais de venda pela zona da Grande Lisboa, não se esqueçam de me dizer ;) 


Hoje em dia é possível visitar quase todas as fajãs de carro. Porém a mais impressionante é a Fajã da Caldeira de Santo Cristo. Chegou outrora a ter mais de 200 habitantes, mas hoje é local sobretudo de romaria - espiritual e não só.

O sismo de 1980 causou desmoronamentos em ambos os acessos da fajã, destruiu a rede telefónica e isolou a Caldeira de Santo Cristo do resto do mundo. Os habitantes tiveram de ser retirados por um helicóptero da Força Aérea Portuguesa. Muitos deles fixaram residência noutros pontos da ilha e outros emigraram.

Hoje apenas 10 pessoas vivem nesta fajã, embora muitas das habitações tenham vindo a ser recuperadas para casas de férias.

Sem acesso a automóveis, o único modo de aqui chegar é a pé ou de moto 4, o meio de transporte que ultimamente substituiu os burros. Só agora, em 2015, se fala em instalar-se rede elétrica na Fajã da Caldeira de Santo Cristo.

Ir à Fajã de Santo Cristo era realmente um desejo muito grande da nossa parte. Conhecer um dos locais mais carismáticos da ilha. Mítico até. 

Uma das reportagens que mais me marcou sobre este lugar encontra-se disponível aqui. Impressionou-me. Aquele lugar só poderia ter uma energia muito especial. Tinha mesmo de lá ir desse por onde desse, por mais que os dias e as horas fossem demasiado curtos e muito ficasse para trás.

Já tinhamos lido que o percurso mais bonito é o que desce desde a Serra do Topo, a uma altitude de 700 metros. São cerca de 5 km através de pastagens e paisagens naturais muito bonitas. Desce-se ainda por um caminho que serpenteia o vale, de onde se avistam cascatas que convidam a um mergulho. No entanto, este seria um trilho mais difícil. Sobretudo na volta.

Se tivessemos mais tempo, teríamos optado por este. Como não era o caso e porque de alguma forma já apresentávamos algum cansaço quando nos pusemos a caminho ao no final da tarde, optámos pelo trilho que parte da Fajã dos Cubres. Como a nossa marcha teve início junto à igreja fizemos cerca de 5 km para cada lado. Mas este percurso poderá ser encurtado se deixarmos o carro mesmo junto ao início do carreiro. Daí serão 4 km.

Este percurso é muito bonito. Fomos sempre acompanhados pelo mar à nossa esquerda, com muita vegetação, flores e passarinhos que saltitam de ramo em ramo. De vez em quando alguns melros juntavam-se a nós e faziam de  pássaros-guia. 

A fajã dos Cubres e lá mais ao longe a Fajã da Caldeira de Santo Cristo

A caminho

A ficar para trás a fajã dos Cubres

 Uma das moto 4 que passou por nós carregada de mantimentos 

 E a Caldeira da Fajã de Santo Cristo cada vez mais perto

 Uma das sinaléticas sobre os períodos de circulação e quem pode circular

 A antiga mercearia

 O bode do sítio

 A espreitar para a Lagoa 

 Fachada da bela Igreja de Santo Cristo, local de culto onde vão devotos de toda a ilha pagar promessas e fazer pedidos de graças.

A festa do padroeiro da ermida é no 1º domingo de setembro. Os peregrinos, praticamente de toda a ilha, deslocam-se aqui pelo caminho da Fajã dos Cubres, como pela vereda da Caldeira de Cima que começa a grande altitude, na Serra do Topo e que, segundo dizem, tem vistas de cortar a respiração.

 No único café da fajã, Café do Borges, pejado de recados de quem passa e faz questão de deixar a sua marca. Um autêntico livro de visitas.

Toda a envolvência paisagística, o cuidado e bom gosto com que as casas foram restauradas fazem-nos acreditar que este é um lugar verdadeiramente especial.

 Junto à lagoa a descansar e a apreciar toda aquela paz e vistas magníficas

 Final de tarde na lagoa de águas salgadas, mornas e tranquilas.

Junto à Lagoa a famosa Igreja de Santo Cristo, datada do séc. XIX. Reza a lenda que terá sido construída após um homem ter encontrado uma imagem do Senhor Santo Cristo num pedaço de madeira a boiar nestas águas. Depois de a pôr na sua sala, a imagem voltaria a aparecer, na manhã seguinte, junto às margens da lagoa.




Tanto a Fajã dos Cubres como a Fajã de Santo Cristo têm uma lagoa, reservas naturais protegidas, Contudo, apenas na de Santo Cristo existe uma espécie de amêijoa, única nos Açores. Continua a ser um mistério como e porquê terão sido introduzidas as amêijoas na lagoa. O que se sabe é que já existem há mais de 100 anos e que aqui encontram o habitat perfeito. Em mais nenhum lugar do arquipélago existe amêijoa.



Na hora do regresso


Nós na volta eles na ida

Simplesmente adorei ter conhecido a Caldeira de Santo Cristo. Que lugar! Que energia existe ali! É realmente espantoso este sítio. Viemos de coração cheio.

No dia a seguir era dia de partida, mas ainda deu para ir à Fajã do Ouvidor, hoje um dos principais locais de veraneio da ilha. 

 Vista para a Fajã do Ouvidor

Junto a esta fajã encontram-se as célebres piscinas naturais da Poça Simão Dias. 


Poça Simão Dias





Já no aeroporto de S. Jorge

E como tudo o que é bom acaba depressa, as férias pelos Açores chegaram ao fim. Foram 9 dias muito preenchidos, muito intensos. 

Não me canso de repetir que este arquipélago é qualquer coisa de extraordinário. Adoro os Açores e espero voltar muito em breve. 


Despeço-me com um vídeo com muitos dos trilhos e lugares por onde passei. Só de ver fico arrepiada perante tamanha grandiosidade e beleza naturais. 


As ilhas dos Açores são lindasssssssssssss e verdadeiramente encantadoras. Não dá mesmo vontade de regressar e voltar para casa!

Informação Adicional (a quem possa interessar):

Carro: Alugámos pela Ribeiro e Sá Lda, com loja mesmo em frente à residencial em que ficámos. Mais uma vez o critério foi ter apresentado o orçamento mais barato dentro da gama mais económica de carros. 

Alojamento: Ficámos hospedados no centro de Velas na Residencial Neto, bem pertinho do Porto de Velas. Acomodações simples, mas muito asseadas. Foi sair do barco, subir a rua e já cá estavamos. Ao pequeno almoço havia sempre queijo de S. Jorge. Soube a posteriori que esta Residencial também oferece serviço de rent-a-car. 

8 comentários:

  1. Adorei conhecer um pouco mais sobre os Açores. Lindas fotos!
    Obrigada pela partilha.
    Bjs

    www.trapinhartes.blogspot.com

    ResponderEliminar
  2. Olá,
    Agradeço por me levar de novo à ilha onde estive a trabalhar (partilhamos a profissão) durante um ano e meio e onde fui realmente muito feliz! Está a fazer uma viagem muito bonita e a qual todos deviam ter oportunidade de experienciar.
    Os Açores são o renovar de forças, pela tranquilidade, pelos sorrisos, pelo mar, pelo ar que se respira e as festinhas que por lá se vivem. Não me senti isolada, não senti que não houvesse nada para fazer, pelo contrário, foi um ano e meio muito intenso. Mas o tempo chegava para tudo, os dias pareciam ter mais horas que cá no continente.
    É daquelas experiências que agradeço ter tido oportunidade de sentir e viver.

    Boa continuação!

    ResponderEliminar
  3. Segundo sei, em Lisboa existe uma loja que se chama Espaço Açores. É provável que encontre Kima á venda ;) Sou suspeita de falar, pois sou açoriana, mas confesso que é o único refrigerante com gás que gosto de beber.

    ResponderEliminar
  4. Excelente, a tua reportagem fotográfica sobre estas ilhas açoreanas, em que não faltam as descrições pormenorizadas e conselhos úteis, parabéns.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  5. O "meu" S. Jorge, é lindo! E a Caldeira de Santo Cristo é qualquer coisa de extraordinario! Fico muito contente que tenhas gostado! Espero que um dia possas voltar, esta ilha tem muito para ver! Quanto à Kima, ve no meu blog um post que fiz ha uns tempos sobre "Adquirir Produtos Açorianos", tem la varias sugestoes de lugares onde, certamente, encontrarás esse e muitos outros produtos! Beijinhos

    ResponderEliminar
  6. Luarte ,que férias extraordinárias :) :) :)
    Isso é que foi pesquisar ,andar ,ver e documentar .
    Admiro vos muito .
    Penso que na blogosfera ,este será o blog com o melhor roteiro para conhecer pelo menos 3/4 dos Açores .
    Eu viajei imenso nestes post e tu foste uma inspiração para mim nestas férias .
    Desbravar caminhos e conhecer novos lugares .........
    Inspirar ,estar e apreciar
    Obrigada pela partilha
    bj mt grande
    Lulu

    ResponderEliminar
  7. No Porto há o Mercadinho dos Açores, na rua da Alegria. É lá que compro alguns produtos dos Açores e que mato saudades da Kima, dos queijos, da morcela, tanta coisa boa. Não sei se enviam por correio.

    ResponderEliminar

Obrigada pela visita e pelo vosso comentário :)