segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Uma semana de Cereja

Já toda a gente sabe quem é a Cereja. Algumas pessoas já me perguntaram como é que foi esta semana com a Cereja. Percebo a curiosidade e tentarei responder neste post.

Mas antes de avançar quero partilhar que neste sábado, uma semana depois da Cereja ter vindo cá para casa, oficializámos a adoção desta canídea :) Foi um dia muito importante para ela e para nós e ao mesmo tempo muito emocionante. Foi a altura de se despedir do sítio e da família de acolhimento temporário com quem viveu nos últimos meses. 

A Cereja é uma jovem cadela com 1 ano. Uma podengo português que nasceu na rua e foi apanhada e levada para um canil. No canil permaneceu durante alguns meses até que se decidiu que iria para abate. Nessa altura a Associação AdoroMimos foi buscá-la a ela e a mais 4 cães. Todos foram batizados com nomes de frutas. O nome Cereja não foi dado por nós. Mas calhou bem porque adorámos e mantivemos a sua identidade.

Foi levada para uma FAT e passou a viver numa box de  1 m2 numa loja de animais. Tinha sorte porque a traziam à rua para fazer as necessidades e ainda brincar durante alguns minutos.

A Cereja sendo um cão de rua poucas ou nenhumas regras tinha. Nunca foi ensinada. No dia em que cá chegou parecia um touro a descobrir a casa. Uma correria, atirou-se para cima da cama, do sofá. Estava imparável. Com uma energia completamente descontrolada.

A primeira reação da nossa parte foi ralhar e mandar parar. Pior a emenda que o soneto. Ela  ainda fazia pior. Desafiava-nos mesmo! Rapidamente percebemos que o registo não podia ser aquele. Calmamente começámos a usar o "Não" sem gritaria, mas de forma firme e assertiva. Inteligente como ela é, acalmou. Foi acalmando aos poucos. Depois de duas ou três vezes percebeu que não podia subir ao sofá ou à nossa cama. A verdade é que nem na nossa casa, nem na casa de outras pessoas ela tenta subir a estes lugares. Deixou de se interessar minimamente pelo sofá. Adora a sua caminha e é para onde vai  e fica quando quer descansar.

Fez um xixi no primeiro dia na carpete da sala. Depois do raspanete não voltou a fazê-lo. 

Dois dias depois, na casa da minha irmã apanhou o caixote de lixo entreaberto e lambeu uma embalagem vazia de iogurte. Ficou com diarreia nesse dia. Como teve de ficar sozinha durante várias horas, quando voltei a casa tinha um cocó diarreico no meio da cozinha. Nem ralhei. A bichinha estava aflita. Se até nós quando estamos em dias apertados não nos aguentamos, quanto mais ela.

A partir daí tem sido sempre muito asseadinha. Não faz nada em casa. Nada!

Brincar, só brinca com os brinquedos dela. Só pega nesses. Nunca se interessou por sapatos, móveis, fios de portáteis, carregadores de telemóveis ou outros objetos cá de casa que estão sempre à mão de semear. Adora os seus bonequinhos e quando quer brincar connosco vai à caminha dela buscar a sua bonecada para a divisão onde estivermos. E depois desafia-nos à brincadeira. 

É de uma meiguice extrema. Foi sempre assim desde o início. Nunca nos rosnou. Gosta de socializar com os outros cães e gosta de crianças. Ao mesmo tempo é uma cadelinha muito independente.

Não chora, ladra ou arranha portas quando fica em casa sozinha. É realmente de um temperamento espetacular.


Nos três primeiros dias e por que vinha mal habituada não pegava na ração dela. Embora estivessemos cheios de peninha dela, não vacilámos. Não queriamos habituá-la a comer comida que não fosse a apropriada para ela. Era certo que depois se recusaria a comer a ração. E a ração é a comida mais completa para um cão e a mais saudável. A informação que tinhamos é que um cão pode mesmo fazer greve durante algum tempo. Ela também fez, mas com a fome acabou por ceder. Sim, emagreceu. Notámos isso. Mas agora come lindamente a ração e nem é preciso estar com outras estratégias e artimanhas.

Aqui em casa é uma autêntica sombra. Segue-nos para todo o lado. Nunca falei tanto sozinha como agora. O que eu me farto de falar quando estou com ela. 

Já começa a obedecer aos comandos que lhe damos. Já a mandamos sentar e ela senta. Aprende rápido com o reforço positivo. Quando ela faz bem, nós usamos um clicker e recompensamos sempre com um biscoito, ração ou com festas. Quem tem cães sabe que um clicker serve para aplicar o condicionamanto clássico do Pavlov no momento das aprendizagens. Quando o cão faz bem aquilo que lhe pedimos, ouve o sinal do clicker e de seguida é recompensado com alguma coisa que gosta. E rapidamente passa a fazer a associação dos dois estímulos e passa a responder às ordens. O nosso clicker é uma tampa de uma garrafa de conserva. Assim não precisámos de comprar nenhum clicker, à venda em PetShops. 

Estamos felicíssimos da vida porque acho que tivemos imensa sorte com esta Cerejinha. É impecável cá em casa e é de uma doçura que nos derrete o coração.

Mas ainda não sabe andar na rua. Está a aprender e vai levar o seu tempo. Mas com muita paciência e persistência da nossa parte ela chega lá. Assim espero. 

Embora as coisas estejam a melhorar com o tipo de recompensas que passámos a oferecer-lhe, na rua a Cereja é outra cadela. Completamente diferente da Cereja cá de casa. Fica bloqueada com os infinitos estímulos  que  tem à disposição. Não procura nem responde a festas e carinhos nossos. Fica desvairada, super excitada. Ao ser chamada ignora. Rejeita os biscoitos que em casa são extremamente tentadores. Está sempre a puxar a trela e não obecede às ordens. Se fosse um cão de grande porte, de certo que arrastava os donos no passeio. Não sabe caminhar ao nosso lado. 

Com o treino ela chega lá e já começa a dar mostras que consegue. Tivemos de trocar o petisco. Temos associado o clicker ao petisco no momento em que ela faz aquilo que lhe pedimos. Começa a resultar. Ela tem de perceber que não é ela que nos leva a passear, mas nós a ela. Não é ela que manda, que é a líder. São os donos que são os líderes da matilha.

Esta semana tem sido intensa e muito cansativa. Chego à noite rota, mas tem sido maravilhosa a nossa convivência com a Cereja. Estamos felicíssimos com esta adoção. É uma cadela extremamente agradecida. Adaptou-se muito rapidamente a nós e nós já não nos imaginamos sem ela. 

Desejos de uma boa semana e muitos lambijinhos da Cereja :)

8 comentários:

  1. Está linda e já se nota perfeitamente a diferença na postura! Lambijinhos é muito bom! Lambijinhos para ela também!

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  2. A Cereja é um mimo em forma de cadela e veio completar a tua casa e encher a tua vida de coisas boas. Beijos para ti e uma festinha para a Cereja.

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  3. Olá Luarte, a Cereja está muito linda e feliz!
    Aos poucos entra nos eixos, é uma questão de hábito vais ver.
    Beijinhos:)

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  4. A Cereja é uma querida, tiveram muita sorte com essa menina, têm aí uma amiga para a vida. Fizeram bem em dar-lhe só ração, os nossos também é só o que comem, é o melhor para eles.
    Estou a ver que são uns donos *****. Beijinhos.

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  5. Olá Luarte,
    Acho que a patuda «Cereja»... é mesmo a «cereja» no topo do bolo.... =)
    Bjs e festinhas...
    Teresa C.

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  6. Tão linda a história da Cereja como a Cereja! É espertíssima como a maioria dos cães de rua. Um cão tem sempre o seu tempo para,se adaptar, mas já percebi que com ela vai ser rápido. Os cães são sempre um reflexo dos donos (não vejo isso não ginja) reparo sempre nisso quando passeio e vou conhecendo cães e donos, é engraçado. ☺

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  7. Ládea Rodriguez18 setembro, 2015 17:31

    Fiquei emocionada com o seu relato sobre a Cereja. Cão de rua nem sempre é dócil e obediente, Tiveste sorte em adotá-la. Percebo que aplica as técnicas de Cesar Millan ou técnicas semelhantes às dele.Parabéns pela Cereja!

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    1. Olá Ládea!
      Obrigada pelo seu comentário, mas permita-me discordar na parte que diz que a maior parte dos cães de rua não são dóceis e obedientes. Daqueles que conheço e foram adotados e outros casos que sei indirectamente, todos são dóceis, meigos, obedientes e extremamente gratos. São cães que já passaram por muito e que ao terem uma casa e quem os estime são de uma doçura incrível. Curiosamente os cães mais desobedientes, mandões, ariscos e com outros problemas de comportamento que conheço são cães que vieram cachorrinhos para os seus donos, quase todos eles comprados, com pedigree, etc... É no mínimo curioso. A minha experiência com a Cereja é de facto extraordinária. Tem todas as características que eu gosto num cão. É super esperta, inteligente, obediente, amorosa, brincalhona, vivaça, excelente aprendiz. Adoro-a :)

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