sábado, 20 de janeiro de 2018

Adoção e o preconceito positivo #2

Considerações sobre eu ter bom coração e ser mesmo boa pessoa...

Comentários que ouço aqui e ali porque adotei uma criança.

Não, eu não sou a Madre Teresa de Calcutá. 

Sem falsas modéstias, também acho que sou boa pessoa e tenho um bom coração. Mas isso tem a ver com aquilo que sou, não tem a ver com a decisão de ter adotado uma criança. Eu não fiquei ou sou melhor pessoa por causa disso.

Claro que a adoção é e tem de ser um ato de amor. Nem pode ser de outra maneira.

Mas é um processo primariamente egoísta. As motivações que me levaram ao caminho da adoção foram egoístas. Como são egoístas as motivações que levam outros a decidirem ter filhos por via biológica. Assim como essas pessoas, eu tinha o desejo de ser mãe, o desejo de ter e amar um filho, de o criar, educar, de constituir família.

(imagem retirada da internet)

Mas há quem argumente que é diferente porque implica passar-se a amar uma criança que não é nossa, que é um "estranho". Mas se pensarmos bem, todo o filho não é um estranho antes de o ser, venha ele por via biológica ou por adoção? Em ambos os casos criam-se expetativas, uma ligação emocional, amorosa antes dele existir. E quando passa a existir é um estranho que temos ali num primeiro momento.

Mas também há quem tenha filhos biológicos e adote. Desculpem-me, mas até nesses casos, as motivações iniciais são egoístas.

Se as minhas motivações fossem genuinamente altruístas, no sentido de querer "fazer o bem", ajudando uma criança que por força de um destino madrasto teve de passar a viver num lar, numa instituição, eu não escolheria a adoção. Não, eu escolheria ser família de acolhimento, sem a intenção de querer tirar daí outras contrapartidas além daquelas que estão previstas na lei. 

Se existissem mais famílias de acolhimento, muitas das crianças que não podem viver com os pais biológicos não estariam a viver em lares e centros de acolhimento, lugares que por melhor que sejam, não substituem o conforto de um casa, de uma família, uma relação de exclusividade, de afeto, proteção e segurança com o adulto que se propõe a fazer aquilo que é suposto um pai e uma mãe fazerem.

Se a minha intenção fosse "fazer o bem", era esse o caminho. Mas, infelizmente, e por agora não tenho essa capacidade abnegada e benemérita de cuidar de uma criança com a qual não tenha anteriormente quaisquer laços, substituindo os seus pais, até estarem reunidas as condições para a essa criança voltar. 

Quem sabe um dia eu tenha essa capacidade de ser muito "melhor pessoa" do que aquela que sou hoje.

16 comentários:

  1. Ante de mais benvinda. A adopção é um acto mt bonito e concordo com o que escreves. Beijos

    ResponderEliminar
  2. E o importante é que sejam felizes. Imagino uma família bonita e feliz, com todas as virtudes e defeitos que possam ter, afinal somos humanos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Somos muito, mesmo em dias de tempestade, e não há dia que não me sinta agradecida por isso.
      Beijinhos, Serena.

      Eliminar
  3. Olá!
    Fiquei contente quando vi que tinha feito uma atualização do blogue ainda eu não imaginava a bela surpresa!!
    Desejo-vos toda a felicidade do mundo!

    ResponderEliminar
  4. Parabéns pelo conjunto de textos, neste regresso!
    Parabéns pela assertividade e beleza das palavras que nos ofereces.
    Parabéns pelos murros no estômago que nos dás.
    Parabéns por nos pores a refletir no verdadeiro significado de ser Pais.
    E parabéns por teres sido mamã!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada do fundo do coração pelas palavras.
      Um beijinho e obrigada por estar desse lado.

      Eliminar
  5. Ser fiel a nós mesmos é o maior acto de amor que podemos cometer.
    Parabéns por te permitirem ser o que escolheste ser.
    Beijinho enorme.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Concordo inteiramente contigo, Catarina.
      Obrigada e beijinhos.

      Eliminar
  6. concordo!! eu também gostava muito de ser família de acolhimento e de adotar quem sabe... mas há sempre medos e neste momento nem de dois estou a dar conta quanto mais de mais crianças?! está ser duro porque estou muitas vezes sozinha pois o marido trabalho por turnos!
    é tão bom ter-te de volta e estar de volta!!!
    boa semana com o teu filhote tão giro!!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O meu medo em ser família de acolhimento é criar, amar uma criança e a qualquer momento ela partir. É nesse sentido que sinto que não tenho ainda essa estrutura emocional, psicológica. No fundo é medo de sofrer (sei que é absurdo e disparatado o sentimento) porque nunca ninguém é nosso a não sermos nós mesmos. Essa é a nossa única pertença.
      Beijinhos, Mel. Obrigada por estares desse lado.

      Eliminar
  7. Parabéns pelo seu Príncipe! Amor enorme e incondicional.....
    Votos de muitas felicidades para vocês.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  8. Se há coisa que eu prezo, é o pragmatismo. Parabéns por palavras tão acertivas. Parabéns por tudo!!!

    ResponderEliminar

Obrigada pela visita e pelo vosso comentário :)