quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Depois do Sim

Depois do nosso sim, o processo desenrolou-se à velocidade da luz. É mesmo muito, muito rápido.

Compreende-se. Não há tempo a perder. Não há porque uma criança continuar muito mais tempo institucionalizada, quando já tem pais.

Uma vez que o nosso príncipe já era crescido, e com algum entendimento sobre o mundo, foi-nos solicitado que criássemos um álbum de apresentação, o chamado "Álbum de Família" a enviar para o nosso filho e a ser trabalhado com a psicóloga antes da nossa chegada. Este Álbum mais não é do que uma prévia apresentação dos pais e da família à criança. E uma vez que é um álbum para uma criança, deve ser simples, conter o essencial e ser pequenino em tamanho por causa da portabilidade.

Capa do Mini Álbum do nosso filho (15 x 15 cm)

Confesso que durante o tempo que estivemos em lista de espera, e embora não tivessemos imposto nenhum limite mínimo de idade, no mais íntimo de mim eu sabia que iria construir este álbum. Eu queria construir este álbum. Sempre achei que um filho meu não viria com menos de 3 anos. Ao contrário da maioria dos pais, nunca foi um desejo meu ter um bebé. Não querendo parecer fria e insensível, eu não sou aquele tipo de pessoas que se derrete com bebés. Mas acho maravilhoso o universo de entendimento, compreensão e perceção de uma criança a partir dos 2,5 anos/3 anos. Eu queria ter um filho e se tivesse que passar pela etapa de ter um bebé, passaria como é óbvio. Mas até nesse aspeto acho que o universo conspirou a meu favor.

A construção e idealização do álbum foi muito emocionante. Nesta fase eu chorava por tudo e por nada. Descobri que afinal aquela conversa das grávidas ficarem mais sensíveis também se aplica nas gravidezes invisíveis. Eu andava com as emoções à flor da pele. É de facto extraordinário aquilo que nos acontece. Há mesmo uma explosão de hormonas do amor a acontecer cá dentro que nos altera o sistema nervoso e o equilíbrio emocional.

Soubemos mais tarde que o nosso filho adorou o álbum. Depois de o receber andava com ele para todo o lado, até com o álbum ele queria dormir. Isso encheu-nos de muita alegria e felicidade. Aquilo que se procura é que haja tipo um namoro à distância. É ele que sonha connosco. Somos nós que sonhavamos com ele. E passa a existir um desejo comum e profundo de nos termos uns aos outros. Nós deste lado já sabíamos que ele desejava muito ter pais. No seu processo havia essa informação. Sempre que ouvia tocar à porta na instituição, a pergunta era invariavelmente a mesma: "São os meus pais?". Saber isto, era saber quase tudo o que era importante saber.

Os dias que antecedem a integração de um filho são dias loucos, de doidos. A par de um álbum, havia um quarto que durante anos se encheu de tralha e virou arrecadação e que tinha de se transformar agora no quarto do nosso filho. Havia roupas para comprar e muitas outras coisas para preparar e organizar. E o tempo fugia, escoava. Se por um lado parecia faltar um eternidade para o nosso encontro. Por outro, meia dúzia de dias para preparar tudo não era nada.


A montagem de fim de semana


Um baú de pinho de 10 euros só precisava de ser montado e pintado 
para virar baú de arrumação para brinquedos

Sem tempo para grandes idealizações o quarto ficou muito simples mas pronto

A cama com o super herói preferido do nosso filho, 
o personagem Faísca McQueen (havia esta indicação no processo)
e o baú dos brinquedos ao fundo 

Enquanto os pais biológicos têm meses para se prepararem e para prepararem a chegada de um filho, os pais adotivos têm dias. De repente uma gravidez invisível que durou anos chega a termo com um telefonema.

É aí que rebentam as águas, como se existisse um dique de emoções a rodear-nos o coração e aquele amor que cresceu e se alimentou de sonhos e expetativas durante anos, deixou de caber no peito.

19 comentários:

  1. O quarto ficou bonito. Aposto que ele adorou! :)

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  2. Mesmo numa gravidez nunca há tempo suficiente, no meu caso só montei o berço quando a probabilidade de sobrevivência era alta, pelas 30 semanas. Mesmo assim tinha coisas por fazer até à última... Depois com tempo vai-se fazendo, colocando molduras e assim. O mais importante ele tem, pais que o amam, um lugar seguro a que pode chamar casa e um quarto com o que é preciso...

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    1. Tirando situações muito específicas, numa gravidez biológica há sempre mais do que meia dúzia de dias para preparar tudo. Mas como disse e bem, o mais importante ele já tinha à espera: Amor.

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    2. Claro que sim mas acredite que eu tive esse tempo e ainda havia coisas por fazer ahahah...

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  3. Tão bom ler estes relatos :)
    Parabéns :)

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  4. ♥ Completamente apaixonada com a vossa história!
    Bom fim de semana!

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  5. Que bom para os três, que sejam sempre muito felizes.

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  6. Confesso que só tinha vindo espreitar o seu blog uma ou outra vez. Mas as vezes que vim, gostei. Ontem vim cá espreitar, por mero acaso, e vi que tinha «voltado».
    Nem imagina como me sinto feliz por si. As suas palavras transbordam felicidade e nem imagina como gosto de ver pessoas felizes!
    Ontem chorei a ler as suas palavras... e hoje também.
    Beijinho enorme nos vossos corações!

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    1. Obrigada do fundo do coração por estar desse lado e pela mensagem que me deixa, Joana ❤

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  7. Vim aqui parar por acaso e fiquei emocionada com o relato. Eu continuo à espera dos meus filhos (estamos neste momento a fazer a formação C) e há momentos desta longa espera que se desespera e se acha que não é para nós. Adorei ler e ver as fotos de uma história concretizada, de o preencher de uma nova vida e a felicidade transmitida nas palavras. Obrigada é um beijinho

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    1. Há acasos felizes como este :) Nós não chegámos a fazer a formação C. Na pagina do blogue no facebook tenho partilhado com maior regularidade outras histórias desta minha história. Sendo esta caminhada tão solitária, estou disponível pelo chat para atenuar um bocadinho esta longa viagem. Disponha. Beijinho :)

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  8. Que giro :) já fui ao Facebook... nova seguidora assídua. Beijinho aos 4

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