sábado, 20 de janeiro de 2018

O tempo de espera para Adotar

A propósito de um comentário de uma leitora do blog que me escreveu o seguinte: "De cada vez que vejo uma noticia de uma criança maltratada pela própria familia penso que quero adotar. Porque é que é tão mais difícil para quem tem tanto amor para dar?". 

(imagem retirada da internet)

Sei que há muita gente que partilha da mesma opinião sobre a dificuldade em adotar.

A maior parte das pessoas não entende o porquê do tempo de espera para adotar uma criança ser tão longo. Porque se esperam anos e anos? Que é inconcebível quando há tanta criança institucionalizada e a precisar de um lar.

Vamos lá tentar desmistificar isto. O tempo de espera depende muito do perfil escolhido e há muitas crianças institucionalizadas mas que não podem ser adotadas.

Mas vamos por partes.

Só para terem uma ideia em Portugal, em média, existem cerca de 11.000 crianças institucionalizadas. Deste universo apenas uma pequena percentagem pode ser adotada. Enquanto existirem ligações com a família biológica, o tribunal não pode decretar a adoção da criança. Não se retiram definitivamente crianças aos progenitores assim sem mais nem menos ou por dá cá aquela palha. É necessário chegar a um acordo com a família ou então esta desligar-se completamente da criança, deixar de ter interesse nela. E é por isso que há muita criança institucionalizada, mas poucas para adoção. 

Só para terem uma ideia, neste universo de crianças institucionalizadas apenas uma pequena parcela, cerca de 700, pode ser adotada por ordem do tribunal. E existem cerca de 2.000 candidatos em lista de espera. Ou seja, há muito mais candidatos do que crianças disponíveis. E destas 700, quase metade delas não vêm a ser adotadas. Nem todas encontram pais. 

As crianças que esperam mais tempo são as mais velhas, as que têm necessidades especiais ou têm irmãos (a maior parte dos candidatos quer um filho de cada vez), são de raça ou etnia diferentes dos candidatos.

E a procura de pais faz-se em função da criança. As equipas tentam encontrar, emparelhar o melhor perfil de pais para aquela criança. É a criança que procura os melhores pais e não os pais que procuram a "melhor" criança.

E aqui chegamos ao perfil da criança.

Dentro deste universo de candidatos a maior parte pede crianças até os 3 anos, caucasianas (raça branca) e sem problemas de saúde. Preferencialmente bebés. Porque o sonho de muitos é ter um filho pequenino, ainda bebé. 

Cria-se a ideia que é mais fácil criar laços, ama-se mais facilmente uma criança se ela for pequenina. Sendo pequenina também terá uma história de vida triste mais pequena para contar e para se lembrar. E com estas preferências sim o tempo pode ser longo e em média rondar os 6 / 7 anos.

Por outro lado, existem muito menos candidatos interessados em crianças a partir dos 7 anos. E sei que para quem opta por crianças a partir desta idade o processo pode ser relativamente rápido. 

E sim, as crianças no geral aceitam e acolhem a ideia de adoção com muita alegria porque estão desejosas de ter pais, desejosas de ter uma família, desejosas de ter a atenção do adulto. Não, elas não querem ser diferentes dos amigos da escola que têm pais. Muitas delas escondem por vergonha que vivem numa instituição.

Obviamente que a adoção é um processo muito pessoal, em que cada candidato deve ser o mais sincero possível não com os outros mas consigo próprio. Naquilo que pretende, naquilo que é capaz de suportar ou de saber lidar. E nesse sentido é muito importante que não ultrapassemos os nossos limites, só para encurtarmos tempos. 

É muito importante sentirmo-nos confortáveis com as escolhas que fazemos para depois não sofrermos deceções, não gorarmos expetativas, não vivermos frustrações. Porque depois não há volta a dar. É mesmo para a vida toda. 

Agora também é importante não idealizarmos filhos perfeitos, porque nem os filhos que vêm por via biológica o são.

2 comentários:

  1. Isso de nao se adotar crianças por dá cá aquela palha tem mt que se lhe diga. Eu conheço uma mae sozinha, que por estar a passar por um momento menos bom, inclusivé doente, pediu ajuda à SS e acabou por ficar sem os 3 filhos mais novos. Proibiram-no de os ver e a mais pequena foi mesmo adotada sem o seu consentimento, ou conhecimento. Ainda há coisas muito tristes sobre as quais ninguém quer falar.

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    1. Magda há muitas histórias estranhas, não nego. Infelizmente este é um processo que envolve muitas pessoas, muitas equipas de todos os pontos do país e quando é assim há falhas. Não devia haver, mas há.

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