Não foi no dia da reunião em que nos apresentaram o
processo do nosso filho que dissemos que sim. Não foi.
Ninguém é obrigado a ter
ali uma resposta e uma decisão prontas. Há quem possa ter, mas nós decidimos a
sós vir para casa falar sobre toda a informação que nos tinha sido facultada.
Precisávamos de organizar o coração, precisávamos de partilhar intimamente e sem
espetadores os nossos receios, pôr o coração a falar, porque o que está ali é demasiado
importante. Demasiado valioso. É uma história, é uma vida, são todas as
fragilidades, dificuldades, tudo o que levou uma criança até ali e tudo o que
já se traduziu na sua esfera psíquica, física e emocional.
E esse tempo foi-nos dado, embora a decisão tivesse de ser
rápida. Tínhamos o direito de recusar, desde que a nossa justificação para o
fazer tivesse sustentação. Faz sentido.
Por isso também não foi nesse dia que lhe conhecemos o
rosto. O que também faz sentido. Ninguém escolhe um filho por catálogo.
Não foi preciso esgotar o prazo que nos foi dado. A decisão
estava tomada, nós queríamos aquele filho, sem mais hesitações. Por decisão
pessoal optámos por guardar quase tudo quanto sabemos acerca do nosso filho só para ele.
É a sua história. É a ele que lhe pertence e a mais ninguém. Ele tem esse direito, de ser o primeiro a sabê-la depois dos pais. Por isso, apenas partilhámos com amigos, família o que achámos que deveria
ser contado a fim de responder à curiosidade natural que qualquer pessoa tem num processo desta natureza. Informação sim, mas quanto baste. Há informação que
não aquece nem arrefece terceiros.
No dia em que o P. ligou a dar a resposta, voltaram a
questionar. Têm mesmo a certeza que querem este menino? Sim, temos. Há quem
fale de experiências pouco positivas e pouco profissionais com as equipas de
adoção. Nós não temos qualquer razão de queixa. Sempre
foram de uma grande retidão para connosco. Nunca ninguém nos tentou impingir
nada. Nunca ninguém nos tentou mudar as nossas escolhas. Conselhos, foram
vários os que nos deram e em posse dos mesmos alterámos ou não decisões
iniciais. A equipa foi e tem sido sempre impecável e disponível para nos
ajudar.
No dia em que dissemos que sim recebemos por e-mail 3 fotos
do nosso petiz.
Ambos estávamos a trabalhar quando as fotos caíram na caixa
do correio.
O P. já me tinha ligado anteriormente a dizer que já tinha
contactado a equipa a informar da nossa decisão e que no fim do telefonema lhe
tinham dito: "P. vamos já enviar para si e para a Luarte as fotos que temos do
vosso filho”.
Eu fiquei logo com o coração a bater a mil.
Ouvi o som da notificação no smartphone e acho que o meu
coração ia saltando da boca. Não podia abrir ali. Tinha de aguardar até ter um
intervalinho para ver sozinha o meu filho.
Entretanto, toca o telemóvel e é o P.
- Já mandaram as fotos. Já viste?
- Não! Mas já sei que as tenho no e-mail. E
então? (toda eu sou uma fogueira em combustão)
- Tem ar de esperto e de reguila. É bonito
(sinto-o mesmo feliz e a sorrir).
Mais uns minutos que parecem uma eternidade. Finalmente consigo ir ao w.c. e toda a tremer abro o email. Abro
as fotos. Dou um suspiro profundo e longo. Tão longo. O meu coração serena e os
meus olhos ficam cheios de água. Aguento-me. És doce. Tens olhos grandes. És
lindo. És meu.
Volto para dentro. Não tenho cabeça para trabalhar. Tu
ganhaste um rosto. O meu filho já tem rosto.
No intervalo do almoço, já dentro do carro, descomprimo.
Choro. Soluço. Ligo ao P. Estou tão feliz. Estamos tão felizes e tão
expectantes. Digo-lhe que o acho parecido com o pai, ao que o pai me responde: "A sério? É que eu também acho que ele é parecido comigo, mas eu sou suspeito".
Nesse dia eu vi-te vezes sem conta. Fechava e abria as fotos. Foram tantas, mas tantas as vezes. Sempre com os olhos cheios de água, de palavras guardadas de um sentimento calado. Tu existias. Tu tinhas um rosto. Tu. Meu Amor.
♥
ResponderEliminarestou toda arrepiada... Obrigada Luarte por estas partilhas deliciosas!! ♥
Obrigada pelas tuas palavras doces, Mel ❤
EliminarQue lindo!! Quero mais!
ResponderEliminarAdorei, parabéns pela partilha beijinhos
ResponderEliminarObrigada, Elisabete ❤
EliminarNão consigo imaginar o nascimento de um filho mais bonito do que este...Lindo!
ResponderEliminarObrigada do fundo do coração ❤
Eliminar♥ Que linda história de amor está a ser contada, e melhor de tudo, é real!
ResponderEliminarMuitas felicidades! ♥
E o melhor de tudo é que a vivi e sinto-me tão grata por isso.
EliminarBeijinhos, nat.
Que Amor Lindo!
ResponderEliminarFELICIDADE,MUITA,para TODOS!
Maria
Obrigada, Maria ❤
EliminarDizem por aí que adotar é um ato de coragem. Para mim é um ato de Amor. Obrigada pela partilha. Muitas felicidades .
ResponderEliminarA propósito da coragem para adotar, há umas publicações atrás eu escrevi a minha opinião.
EliminarBeijinhos, Susana.
Não imaginas o quanto me tocam estas tuas palavras! Muito obrigada por partilhares aqui a tua história, Muito obrigada por trazeres tanta esperança e fé!
ResponderEliminarBeijinho enorme**
Obrigada, Catarina ❤
EliminarLágrimas nos olhos :) A tua gravidez foi tal qual a minha... o bebé na barriga é um pormenor, comparado com o amor entre mae/pai e filho... isso é o que importa :)
ResponderEliminarTambém és mãe de coração, Sabi?
EliminarNão tenho palavras. Muitos parabéns. Pela gravidez rápida e pelo nascimento de vocês como pais e do vosso piolho como filho. Que sejam sempre muito felizes.
ResponderEliminarNão foi gravidez rápida. Durou 5 anos, mas chegou a termo :)
EliminarBeijinhos e tudo de bom para ti e para as tuas piolhas ❤
Expressei-me mal. Queria dizer rápida desde que vos contactaram. A espera pode surgir em qualquer gravidez ;) mas, desde o telefonema até ao chegarem a casa a 3, parece tudo ter sido a mil, nem imagino a montanha de emoções que todos devem ter sentido.
EliminarUma beijoca gigante para todos e festinhas à Cereja - qu etambém deve ter ficado elétrica :)