O dia em que nos conhecemos foi brutalmente
intenso em emoções.
Despedimo-nos de ti a meio da tarde e regressámos à nossa casinha do
hotel, como tu dias depois virias a chamar carinhosamente ao lugar onde estávamos
hospedados.
Chegámos esgotados. Felizes, mas
esgotados. Parecia que de repente toda a nossa energia anímica tinha-se finado, como estrelas engolidas por um buraco negro.
Não houve lugar para conversas, para pensamentos avulsos, opinões, o que fosse… Não havia forças. Ficámos calados. Precisávamos desse silêncio. Do descanso, do repouso das palavras. Não havia espaço para existirem. Seriam puro ruído depois de tudo e do tanto que nos tinha acontecido.
Sei que chegámos ao quarto e nos
atirámos para cima da cama, vestidos, de corpo partido e ali extenuados o teu
pai adormeceu no mesmo segundo. Eu ainda resisti uns minutos de olhos postos no teto a flutuar. Sem pensar em nada. De cabeça vazia e de coração cheio. Acabei também por
adormecer vencida pelo cansaço.
Todos os dias daquela semana foram para ti. Para nós. Para os três. E foram tão intensos.
Quando de manhã cedo chegávamos ao centro de acolhimento, poucos minutos depois dos meninos terem ido para a
escola, e tocávamos à campainha para te ir buscar, nós do lado de fora já sentíamos a tua euforia. Tu, lá dentro, a correr em direção à porta e a gritar de forma entusiasta: "É o papá e a mamã!" Vinhas sempre cheio de presa. Havia tanto para fazer, tanto para viver. Estavas tão feliz e nós tão
felizes contigo.
Esses dias estão guardados nas memórias
mais doces e ternurentas que tenho de tudo quanto já vivi até aqui. São
inesquecíveis. São únicos. São dias nossos que já ninguém nos tira.
Arrepio-me quando a minha memória
volta lá, aos lugares, às coincidências, como a música "Into my Arms" que durante dias tocou em modo repeat na minha cabeça. E voltou a tocar ali, no parque infantil, vinda do café que ficava mesmo em frente, enquanto tu no alto do escorrega
gritavas:
“Mamã eu vou cair. Tu apanhas-me,
está bem?”
Arrepio-me quando no dia da partida,
tu deste um beijo rápido de despedida às funcionárias e às responsáveis do centro de acolhimento. Não te
despediste dos teus amigos. Iria ser doloroso. Foi melhor assim. Sobretudo para quem fica. Tu também durante muito tempo ficaste e esperaste até este dia.
Os adultos que conhecias, aqueles
em que confiaste e que cuidaram de ti, não conseguiam disfarçar o misto de emoções naquele momento. Foi difícil. Todo o carinho que sentiam por ti, estava
ali, estampado nos olhos humedecidos e nas vozes trémulas que te desejavam o melhor. Porque o melhor estava guardado para ti. Foi difícil não me emocionar também. Afinal de contas aquele foi o teu lugar, a paragem onde te abrigaste das tempestades da vida, enquanto esperavas por nós.
Mas tu sempre de sorriso nos lábios, como
só os audazes sabem ser nos momentos difíceis, acenaste um último adeus, pegaste no teu saco e na tua pequena mochila, e no teu jeito despachado e muito expedito foste andando em passos largos à nossa frente. Sem
vacilar entraste no carro para a última viagem sem retorno. Nunca em momento algum olhaste para trás. O teu pai ao volante e eu ali ao lado a conter as lágrimas. E tu, no banco de trás, a única coisa que nos disseste antes de partirmos:
“E agora, já podemos ir para casa?”
Bem que lindoooo, tenho estado a ler os teus textos e estou super emocionada, não tenho palavras!! Que familia linda, simplesmente amor!
ResponderEliminarObrigada, Ana :)
EliminarBeijinhos
Parabéns. Penso que tiveram muita sorte no filho que tiveram. Ainda bem. Também pertenço ao grupo de casais inférteis. Tentamos 2 vezes e não tivemos sucesso. Em ambas as vezes fiquei com a minha saúde mental gravemente afectada. Por isso já não fomos para a terceira tentativa e desistimos de engravidar por uma via não natural. Não penso em adoptar. Tudo tem um tempo e é preciso digerir bem os sinais que a vida nos mostra. É porque não tem de ser. Não faz sentido passar por tanto sofrimento para ter um filho. Foi a essa conclusão que cheguei. Desejo tudo de bom para a vossa família:-)
ResponderEliminarObrigada por partilhar a sua história. Sou da mesma opinião, a adoção não tem de ser a resposta para casais inférteis quando tudo falha. É um caminho que tem de fazer sentido.
EliminarDesejo-lhe as maiores felicidades.
Beijinhos
Não consigo ler as tuas palavras sem me emocionar.
ResponderEliminarQue palavras bonitas.. Mesmo assim não tão bonitas como o sentimento com que as escreves..
Que está seja apenas a primeira se muitas semanas bonitas para os 3.
Beijinho enorme
Obrigada, Catarina :)
EliminarBeijinhos
♥ tão lindo!
ResponderEliminarQuerida Luarte... Estes teus relatos são tão emocionantes... assim como a vossa história... A forma como escreves faz com que quase veja a vossa história... e fique emocionada, com a lagrima no canto do olho, pelas emoções que a vossa história gera e pela felicidade que transmite
ResponderEliminarObrigada pelas palavras bonitas ❤
EliminarNão posso deixar de me maravilhar com a vossa história! Que bom que se encontraram! <3
ResponderEliminarPenso que não nos podíamos deixar de encontrar. Cada vez acredito naquilo que nos está destinado. Beijinhos
EliminarLuarte, há muito, muito tempo que te leio, e só agora é que consigo "participar" na conversa. Emocionada sempre que leio os teus ultimos textos e grata. Grata por "conhecer" pessoas assim como tu. Um grande beijinho e felicidades nesta nova etapa da vida :)
ResponderEliminarGrata eu por estar desse lado a acompanhar, Maria.
EliminarBeijinhos ❤
Grata por esta partilha que estás a fazer connosco!
ResponderEliminarParabéns pelo menino lindo que têm.
beijinhos
Obrigada, Márcia!
EliminarBeijinhos
Tão lindo, obrigada por serem assim....
ResponderEliminarObrigada pelo comentário, Natália.
EliminarBeijinhos
Até mesmo para mim que ainda não tenho instinto maternal é impossível não sentir uma forte emoção por estes textos.
ResponderEliminarSou uma seguidora fiel da Cereja, por isso aguardo com curiosidade o relato do encontro entre os dois irmãos
Obrigada, Marisa.
EliminarVou partilhando amiúde partes desta história que é ainda tão pequenina e simultaneamente tão grande.
Beijinhos
Muito lindo! Desejo-vos as maiores felicidades do mundo! <3 Li
ResponderEliminarObrigada,Li ❤
EliminarOlá Luarte! Vou tratar-te por tu porque penso que devemos ter mais ou menos a mesma idade e já te leio há muito tempo, cheguei cá na altura por te conhecer no Fórum O Nosso Casamento, vê lá há quanto tempo!
ResponderEliminarFoi com enorme surpresa e alegria que regressei ao teu blog e deparei-me com a vossa história de adopção! Eu e o meu marido também somos candidatos desde o ano de 2012 (novembro) e ainda aguardamos o telefonema que nos vai mudar a vida. Quero agradecer-te por teres partilhado os vossos momentos (telefonema, reunião para conhecer o processo, criação do álbum, primeira vez que viste a fotografia, primeiro encontro,...) porque são tudo cenários que nós imaginamos vezes sem conta na nossa cabeça mas, ler o teu relato, deu-me uma dimensão real e deu-me esperança que o meu dia estará para breve!
Desejo-vos toda a felicidade do mundo!
M.
Olá, M.
EliminarJá lá vão pelo menos uma dezena de anos, então :)
Se são candidatos desde 2012, acredito que esteja para muito breve o vosso telefonema.
Desejo-vos a maior sorte no que está para vir. É incrível, muito
intenso, um grande desafio. O maior de todos. É brutal ❤
Obrigada por esta partilha maravilhosa.
ResponderEliminarMuito obrigada pela partilha Luarte, fiquei tão sensibilizada. São histórias como esta que fazem com que cada vez tenha mais certeza que escolhemos o caminho certo ao iniciar um pedido de adoção. Também acredito que as coisas não são por acaso e espero um dia ter esta bênção, quando tiver que chegar o dia chegará.
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