Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e principalmente os gostos.
Coisas que outrora não achava piada nenhuma, chegando mesmo a dizer: "Quando tiver a minha casa não quero nada disso, credo!.", agora encontro nelas um encanto especial.
Coisas que achava demasiado antiquadas, sem graça, agora acho-as super estilosas.
Podia enumerar um sem número delas, mas hoje apetece-me falar das louças ou da faiança do Rafael Bordallo Pinheiro, artista português que se notabilizou na cerâmica, numa vertente naturalista e que ficou sobejamente conhecido pela criação do popular Zé Povinho.
Quem não se lembra de ver na casa dos pais, dos tios, da vizinha, ou dos avós, louça deste famoso artista?
Falo dos pratos, serviços de café, travessas, terrinas-couve-abóboras-tomates, etc...
Na altura achava as peças medonhas (desculpe lá qualquer coisinha, oh sr. Rafael).
Como em tudo, existem em muitas casas imitações das suas peças, mas as autênticas têm o famoso símbolo da rã.

Ora, há uns tempos atrás numa das minhas rotineiras incursões no mundo da blogosfera, dei de caras com esta foto.
Inspiração Não me recordo onde a achei. Só me lembro que não era de um blog português.
Fixei-me nela durante longos segundos.
Primeiro, porque reconheci o traço das famosas couves do Rafael Bordallo Pinheiro.
Segundo, porque achei linda e diferente a mistura da peça tradicional e artesanal com o prato-base de traços tão contemporâneos.
Olhei os pratos-couve com outros olhos e gostei mesmo muito. Quem diria!
Guardei-a na minha pasta dos favoritos.
Mais tarde, quis o destino que fosse parar ao blog da Babette e viesse a descobrir que ela própria usava imensas peças do Rafael Bordallo Pinheiro nos seus almoços e jantares temáticos.
Acredito que os pratos que a Babette faz devem ser uma delícia, mas os cenários que ela cria à mesa são simplesmente maravilhosos. Um sonho!
Não que tivesse quaisquer pretensões de chegar sequer aos calcanhares da Babette (por mais que me esforçasse, as minhas criações nunca passariam de cópias demasiado roscofes), mas o certo é que depois de ver algumas das suas amostras, fiquei com uma vontade louca de ir às Caldas da Rainha, à Fábrica de Faianças do Rafael Bordallo Pinheiro, e adquirir algumas peças para mim.
Mais tarde, voltei a cruzar-me com estas peças nas delicadas fotos do livro de culinária "Dias com Mafalda", da Mafalda Pinto Leite.
Não havia mais nada a fazer! O bichinho que já tinha ficado cá dentro, por esta altura, rompeu o casulo e transformou-se em borboleta.
O estado de enamoramento foi tal, que cheguei um dia a sonhar que tinha comprado uns quantos pratos-couve, mas desta vez, as couves eram cor-de-rosa.
Cor-de-rosa, brancos, verdes ou noutra cor qualquer, eu queria mesmo era ir à fábrica. Conhecê-la!
E fui, neste sábado :)
Além do "preço de fábrica", ainda aproveitámos a zona das oportunidades, onde os preços não são nenhuma pechincha, mas são bem mais simpáticos.
Eu gostava de ter trazido o açúcareiro, o suporte de vela, a travessa-folha-couve, os pequenos recipientes para as compotas em formato de tomate, morango, abóbora, etc... Todos eles estavam desejosos de vir comigo. Mas não deu. Primeiro porque tinha o "polícia" que não se cansava de me dizer "é giro, mas é caro para caraças!".
Mas com jeitinho, dei a volta ao P. e trouxe algumas para casa.
É sempre bom ter, entre muitas outras razões, mais esta para ir às Caldas :)
Já disse ao P. que da próxima vez que formos às Caldas, temos de voltar à fábrica para trazer as andorinhas. As andorinhas ficariam mesmo giras na varanda, não é P.?
Desta vez, trouxe uma travessa-folha-de-sardinheira com um caracol. Eu nem a tinha visto. O P. é que veio ter comigo com a folhinha a dizer:
"Olha só este! É a tua cara!". Eu não podia estar mais de acordo com ele.

No fim, trouxe 10 pratos-couve. Aqueles que estava convencida que não existiam :D

Afinal os sonhos podem-se tornar realidade :)
Vou já ali deitar-me, adormecer, sonhar e já volto. Há que aproveitar as marés de sorte. Não é o que dizem?