O tempo pergunta ao tempo
Quanto tempo o tempo tem.
O tempo responde ao tempo
Que o tempo tem tanto tempo
Quanto tempo o tempo tem.
(lengalenga do tempo)
Sempre gostei dos relógios de design clássico de ponteiros.
Mesmo quando falamos de relógios-despertadores continuo a preferir os de ponteiros, apesar de durante largos anos só ter conhecido o relógio analógico de números vermelhos, que morava ao lado do meu travesseiro em casa dos meus pais.
Mais tarde, já na era do telemóvel, o relógio analógico estava lá, mas na condição de relógio-reformado. O telemóvel tornou-o inactivo na sua principal função.
Saí da casa dos pais e o telemóvel continuou a fazer as vezes do tradicional despertador.
O certo é que sempre adorei aqueles antigos relógios de campainha ou também conhecidos por relógios de campânulas. O som do despertador é de fugir. Aquilo levanta um morto, tal é o ruído ensurdecedor quando desata a martelar à hora marcada.
Antigamente estes relógios eram de corda e muitos mostradores exibiam uma bonita numeração romana. Mais tarde, a corda deu lugar às pilhas, e a numeração romana deu lugar à numeração árabe. Por isso, hoje em dia ter um desses primeiros relógios é um achado.
Recordo-me, em tempos idos da minha adolescência, de ter oferecido um de pilhas à minha irmã, num aniversário. Para mim nunca comprei nenhum. Nem ninguém me ofereceu nenhum. Não aconteceu... Mas talvez porque desejasse inconscientemente ter um, dei um à minha irmã.
Agora que me ponho a pensar nisso, existem muitas outras coisas que sempre gostei, que poderia muito facilmente ter tido, mas por algum desencontro na órbita da vida não aconteceram...
O meu primeiro e único relógio de modelo clássico de campânulas tem cerca de 4 mesitos.
Não é nenhuma relíquia-herança de família, nem veio de nenhuma feira ou loja de velharias ou antiguidades. Foi comprado novinho, a estrear. Aconteceu...
Comprei-o não para servir de despertador, mas tão só para ver as horas num relógio bonito. Se acordasse ao som da sua campainha era motivo mais do que suficiente para me tornar numa "serial killer". O mau humor com que acordaria todas as manhãs de certeza que não pouparia aqueles que se cruzassem no meu caminho e se lembrassem de me dirigir palavra . Por isso, continuo a preferir acordar ao som da musiquinha do telemóvel (sei que não deveria tê-lo em cima da mesa-de-cabeceira, mas nós somos animais de hábitos e este ficou e enraizou-se até às entranhas).
O P. também tem um na sua mesinha-de-cabeceira. Aliás, ele foi o primeiro a ter o seu. Queria um e recebeu-o de presente dos cunhados.
É verdade que eu podia muito bem ver as horas pelo dele. Mas como sempre desejei ter um relógio desses, um meu, só meu, decidi desta vez oferecer um a mim própria :)
O P. riu-se quando um dia chegou a casa e viu a nova aquisição na minha mesinha-de-cabeceira e o meu entusiasmo estampado no rosto.
"És mesmo miúda!" - exclamou ele num sorriso rasgado e num abraço apertado.
Ainda fui a tempo...

Um é meu, o outro é dele. Qual?