segunda-feira, 11 de junho de 2018

As primeiras mini-férias em família

"- Oh mãe quando é que vamos de férias?"

Está visto, o rapaz gosta é de laró!

Amiúde, uma e outra vez surgia a pergunta.

Tirando há umas semanitas um fim de semana na casa de aldeia dos avós, ainda não tinha surgido a oportunidade de fazermos umas férias juntos.

Por isso não imaginam a alegria quando há uns dias ele regressou a casa da escola e deu de caras com uma mala de viagem. Um trolley azul elétrico que eu tinha comprado nesse dia para ele.

A excitação foi tal que o rapaz não largou a mala o resto do dia. Abria mala, fechava mala. Abria mala, fechava mala. Quis dormir com a mala no quarto. E essa noite foi para esquecer. Nem dormiu, nem deixou os pais dormirem. Levantou-se milhentas vezes para mexer na mala. E não foi uma nem duas as vezes que o vi abraçado ao trolley. 

Este ano com o feriado do Corpo de Deus a 31 de maio e com uma sexta-feira a suplicar uma ponte, decidimos rumar 4 dias ao norte do país para umas mini-férias em família.

E o destino escolhido foi o Alto Douro.

Não era a primeira vez que estávamos nesta zona tão bonita do país, mas era a primeira vez com ele. E isso muda tudo, fazia toda a diferença.

Umas férias com miúdos são necessariamente diferentes, há que conjugar atividades, passeios que agradem a todos. E nesse sentido o Douro foi uma excelente escolha.


Vistas do interior do Restaurante que fica no Miradouro de São Leonardo de Galafura. 
A 640m de altitude temos uma vista previlegiada sobre o Rio Douro e toda a paisagem envolvente

Rumo ao Pinhão

Já íamos com a ideia de fazermos um passeio de barco. Uma estreia para ele que nunca tinha andado num.

Tirando os passeios para desfrutar das deslumbrantes paisagens do Douro vinhateiro, emolduradas pelo verde do rio, as experiências gastronómicas com iguarias regionais, o barco rabelo e o comboio histórico acabaram por ser o ponto alto da nossa estadia no Douro.

O S. Pedro foi um querido connosco, porque tirando a chuva que apanhámos na A1 rumo ao Norte, os dias estiveram soalheiros e temperados.

O passeio de barco iniciou-se no Pinhão, na aldeia-coração do Alto Douro. Situada na margem direita do Rio Douro é sobretudo conhecida pela sua linda estação de comboios, contruída no séc. XIX e que mantém os originais painéis de azulejos que são retratos de cenas da vida quotidiana na produção de Vinho do Porto na região, desde a vindima, o pisar das uvas, o transporte do vinho nas pipas nos barcos rabelos até chegarem aos armazéns de Vila Nova de Gaia - Porto, onde a partir daí o vinho era comercializado. Também na zona do Pinhão encontramos algumas das mais conhecidas quintas de produção do Vinho do Porto. Por ser uma aldeia ribeirinha, é paragem obrigatória dos famosos cruzeiros do Douro, mas também neste local aglomeram-se muitos barcos rabelos, que hoje em dia são usados para passeio e transporte turístico.


Ponte românica do Pinhão


Estação do Pinhão

No interior da estação do Pinhão

Vistas da estação para o rio 

A nossa ideia inicial era fazer um passeio de rabelo com duração de 2 horas (ida e volta) com partida do Pinhão para o Tua. Só que este passeio só acontece duas vezes ao dia e como nos demorámos no passeio da manhã e o almoço ficou para tarde, já não chegámos a tempo. Restou-nos o passeio de 1 hora (ida e volta) do Pinhão à Quinta da Romaneira. Este troço do rio não é visível a partir das estradas. E esta opção com uma criança acabaria por se revelar a escolha mais acertada em termos de tempo.

É espetacular apreciar o silêncio do rio, ver a paisagem de socalcos nas montanhas, os vinhedos e as belíssimas quintas, que fazem desta zona Património Mundial, mas para uma criança de 5 anos ao fim de alguns minutos de admiração, excitação e deslumbramento, aquela  paisagem que nos enche os olhos e a alma, acaba por ser mais do mesmo. Isto para dizer que no regresso ao Pinhão, mais ou menos a meio do trajeto, já o príncipe estava estiraçado no acolchoado dos assentos à espera de chegar ao cais.

Eu que já tinha viajado em cruzeiro pelo Douro e também numa pequena embarcação, gostei imenso de passear ao final da tarde num rabelo. Um passeio mais intimista. Para o príncipe foi a sua estreia, a qual coincidiu com o Dia da Criança. E talvez por ser o seu dia e a única criança a bordo num total de 6 passageiros foi convidado a sentar-se ao leme e a conduzir o barco por cerca de um minuto e meio. Ele nem estava em si. Nem queria acreditar no que lhe estava a acontecer de tão inesperado que foi o convite e a possibilidade de ter um leme nas mãos e conduzir um barco a sério.


No cais do Pinhão 




A ponte metálica do Pinhão do Pinhão sobre o Rio Douro







Uma das pontes ferroviárias sobre o rio


O Homem do Leme

Mas se a experiência do barco já tinha sido fantástica, a cereja no topo do bolo desta nossa viagem foi poder viajar no comboio histórico do Douro.

Esta viagem tem mesmo um encanto especial e era uma estreia para todos. Vale mesmo, mesmo a pena ir ao Douro e viajar neste comboio. Diria que é mesmo obrigatório.

Este ano a circulação do comboio histórico começou no dia 2 de junho e vai até 27 de outubro. Só circula aos sábados e domingos. E no dia 2 de junho, no primeiro dia do Comboio Histórico do Douro 2018 lá estávamos nós para uma viagem no tempo.

O programa além da viagem de ida e volta Régua-Tua, contempla animação a bordo com grupo de música e cantares da região, um brinde ao Douro com um Porto Ferreira e a oferta de saquinhos em cesta de vime com os famosos rebuçados da Régua para saborear enquanto viajamos numa linha centenária a serpentear as margens do rio, cumprindo tradições por quem visita esta maravilhosa região do país.

A CP excecionalmente no mês de junho pôs a circular a sua linda locomotiva azul a diesel datada de 1967, que conserva as suas características originais.
















Esta locomotiva a diesel fez as delícias do meu príncipe, assim como as 5 carruagens históricas panorâmicas em madeira, com as janelas que se abrem e que permitem contemplar a paisagem do Douro de uma forma única.







Partida da Régua rumo ao Tua

 Durante a viagem





 Paragem obrigatória no Pinhão

Na estação do Pinhão

É espetacular podermos explorar, andar e circular à vontade e sem restrições pelas carruagens do comboio histórico. Deitarmos a cabeça de fora e deixarmo-nos encantar pelos sons das rodas nos carris, enquanto o vento nos bate na cara e nos atira os cabelos ao ar. Cruzarmo-nos com as embarcações no rio e trocarmos acenos. Tudo isto ao som do silvo da locomotiva, enquanto os nossos olhos filtram as imagens do rio e das encostas que nos passam à frente como um filme película projetado numa tela por uma velha câmara de cinema. Porque é num filme que nos sentimos a viver dentro deste comboio. E quem disser que esta viagem não é mágica, das duas uma, ou não sente ou então mente.