terça-feira, 28 de agosto de 2018

Do amor pelo filho que chega...


Um dos muitos medos, de quem alguma vez pensou na adoção como opção, é inevitavelmente este: "e se eu não conseguir amar assim tanto a criança que me for destinada?". 

É um medo legítimo como qualquer outro. Afinal o que é o medo senão o receio pelo desconhecido? 

O que a vida me tem ensinado, é que o amor é o sentimento mais poderoso, mas também o mais difícil de todos. O verdadeiro amor é o que nasce da ausência de expetativa. Quando deixamos de esperar a troca, a correspondência é aí que o amor acontece de verdade. Tudo o resto são ensaios.  É o enamoramento,  o encantamento ou a paixão. Emoções voláteis que se alimentam da expetativa, como quem se alimenta de uma bomba de oxigénio para sobreviver. Quando a expetativa não é correspondida, vem o desapontamento, a desilusão, a angústia de quem sente que não era isto o que esperava. Mas o amor, esse não depende das circunstâncias, dos "ses" que tantas vezes lançamos como pedras no caminho e que só nos fazem tropeçar nos muros das nossas próprias ilusões. 

Amar é simplesmente aceitar. Assim como a vida não é o que idealizamos, um filho não é exceção. 

O verdadeiro amor por um filho não depende dos laços de sangue, da idade, do sexo, de ter esta ou aquela personalidade, de se comportar desta ou daquela maneira, de ter este ou aquele problema de saúde, aquela limitação, etc. Se antes do meu filho chegar eu imaginava todas as crianças do mundo como podendo uma delas ser minha, hoje eu não imagino que o meu filho possa ser outro que não aquele que tenho. Ter outra cor de cabelo que não aqueles fios negros da cor do carvão, outros olhos que não aqueles olhos grandes, cor de mel que me comovem e fazem estremecer quando olham bem fundo para dentro dos meus, outro tom de pele que não aquele caramelo que eu tanto lhe gabo. Não imagino que possa ter outro feitio que tanto me leva ao paraíso como me leva a suster a respiração 1001 vezes por dia e a bradar aos céus muita paciência. Porque simplesmente eu já não me imagino sem ele, mesmo naqueles momentos em que me tira do sério. Acredito mesmo que o amor é mesmo isto, mágico na forma como nos toca e nos faz sentir tudo de uma ponta à outra. Mesmo naqueles dias onde não há ponta por onde se lhe pegue.

terça-feira, 3 de julho de 2018

Criar uma bolsa de cintura em 5 segundos

Chega o verão e além de desejarmos roupas mais leves, também queremos malas mais pequenas e menos pesadas.

Idealmente até queremos ver-nos livres de malas como num concerto, num festival, numa saída mais informal...

E nisto dei por mim à procura de bolsas de cintura. Na minha cabeça tenho uma idealizada em pele castanha, como a da imagem. Só ainda não a encontrei (se a virem por aí digam-me, sim?).


Até que me lembrei que aproveitando malas/bolsas pequenas que temos em casa podemos em 5 segundos transformá-las em práticas bolsas de cintura e fazer pendant com a roupa que estivermos a usar nesse dia.

E como? Guardando a alça no interior da mala ou retirando-a (se for possível) e a seguir enfiando um cinto nas argolas laterais.




Querem coisa mais rápida e mais simples sem gastar dinheiro? 😘

segunda-feira, 11 de junho de 2018

As primeiras mini-férias em família

"- Oh mãe quando é que vamos de férias?"

Está visto, o rapaz gosta é de laró!

Amiúde, uma e outra vez surgia a pergunta.

Tirando há umas semanitas um fim de semana na casa de aldeia dos avós, ainda não tinha surgido a oportunidade de fazermos umas férias juntos.

Por isso não imaginam a alegria quando há uns dias ele regressou a casa da escola e deu de caras com uma mala de viagem. Um trolley azul elétrico que eu tinha comprado nesse dia para ele.

A excitação foi tal que o rapaz não largou a mala o resto do dia. Abria mala, fechava mala. Abria mala, fechava mala. Quis dormir com a mala no quarto. E essa noite foi para esquecer. Nem dormiu, nem deixou os pais dormirem. Levantou-se milhentas vezes para mexer na mala. E não foi uma nem duas as vezes que o vi abraçado ao trolley. 

Este ano com o feriado do Corpo de Deus a 31 de maio e com uma sexta-feira a suplicar uma ponte, decidimos rumar 4 dias ao norte do país para umas mini-férias em família.

E o destino escolhido foi o Alto Douro.

Não era a primeira vez que estávamos nesta zona tão bonita do país, mas era a primeira vez com ele. E isso muda tudo, fazia toda a diferença.

Umas férias com miúdos são necessariamente diferentes, há que conjugar atividades, passeios que agradem a todos. E nesse sentido o Douro foi uma excelente escolha.


Vistas do interior do Restaurante que fica no Miradouro de São Leonardo de Galafura. 
A 640m de altitude temos uma vista previlegiada sobre o Rio Douro e toda a paisagem envolvente

Rumo ao Pinhão

Já íamos com a ideia de fazermos um passeio de barco. Uma estreia para ele que nunca tinha andado num.

Tirando os passeios para desfrutar das deslumbrantes paisagens do Douro vinhateiro, emolduradas pelo verde do rio, as experiências gastronómicas com iguarias regionais, o barco rabelo e o comboio histórico acabaram por ser o ponto alto da nossa estadia no Douro.

O S. Pedro foi um querido connosco, porque tirando a chuva que apanhámos na A1 rumo ao Norte, os dias estiveram soalheiros e temperados.

O passeio de barco iniciou-se no Pinhão, na aldeia-coração do Alto Douro. Situada na margem direita do Rio Douro é sobretudo conhecida pela sua linda estação de comboios, contruída no séc. XIX e que mantém os originais painéis de azulejos que são retratos de cenas da vida quotidiana na produção de Vinho do Porto na região, desde a vindima, o pisar das uvas, o transporte do vinho nas pipas nos barcos rabelos até chegarem aos armazéns de Vila Nova de Gaia - Porto, onde a partir daí o vinho era comercializado. Também na zona do Pinhão encontramos algumas das mais conhecidas quintas de produção do Vinho do Porto. Por ser uma aldeia ribeirinha, é paragem obrigatória dos famosos cruzeiros do Douro, mas também neste local aglomeram-se muitos barcos rabelos, que hoje em dia são usados para passeio e transporte turístico.


Ponte românica do Pinhão


Estação do Pinhão

No interior da estação do Pinhão

Vistas da estação para o rio 

A nossa ideia inicial era fazer um passeio de rabelo com duração de 2 horas (ida e volta) com partida do Pinhão para o Tua. Só que este passeio só acontece duas vezes ao dia e como nos demorámos no passeio da manhã e o almoço ficou para tarde, já não chegámos a tempo. Restou-nos o passeio de 1 hora (ida e volta) do Pinhão à Quinta da Romaneira. Este troço do rio não é visível a partir das estradas. E esta opção com uma criança acabaria por se revelar a escolha mais acertada em termos de tempo.

É espetacular apreciar o silêncio do rio, ver a paisagem de socalcos nas montanhas, os vinhedos e as belíssimas quintas, que fazem desta zona Património Mundial, mas para uma criança de 5 anos ao fim de alguns minutos de admiração, excitação e deslumbramento, aquela  paisagem que nos enche os olhos e a alma, acaba por ser mais do mesmo. Isto para dizer que no regresso ao Pinhão, mais ou menos a meio do trajeto, já o príncipe estava estiraçado no acolchoado dos assentos à espera de chegar ao cais.

Eu que já tinha viajado em cruzeiro pelo Douro e também numa pequena embarcação, gostei imenso de passear ao final da tarde num rabelo. Um passeio mais intimista. Para o príncipe foi a sua estreia, a qual coincidiu com o Dia da Criança. E talvez por ser o seu dia e a única criança a bordo num total de 6 passageiros foi convidado a sentar-se ao leme e a conduzir o barco por cerca de um minuto e meio. Ele nem estava em si. Nem queria acreditar no que lhe estava a acontecer de tão inesperado que foi o convite e a possibilidade de ter um leme nas mãos e conduzir um barco a sério.


No cais do Pinhão 




A ponte metálica do Pinhão do Pinhão sobre o Rio Douro







Uma das pontes ferroviárias sobre o rio


O Homem do Leme

Mas se a experiência do barco já tinha sido fantástica, a cereja no topo do bolo desta nossa viagem foi poder viajar no comboio histórico do Douro.

Esta viagem tem mesmo um encanto especial e era uma estreia para todos. Vale mesmo, mesmo a pena ir ao Douro e viajar neste comboio. Diria que é mesmo obrigatório.

Este ano a circulação do comboio histórico começou no dia 2 de junho e vai até 27 de outubro. Só circula aos sábados e domingos. E no dia 2 de junho, no primeiro dia do Comboio Histórico do Douro 2018 lá estávamos nós para uma viagem no tempo.

O programa além da viagem de ida e volta Régua-Tua, contempla animação a bordo com grupo de música e cantares da região, um brinde ao Douro com um Porto Ferreira e a oferta de saquinhos em cesta de vime com os famosos rebuçados da Régua para saborear enquanto viajamos numa linha centenária a serpentear as margens do rio, cumprindo tradições por quem visita esta maravilhosa região do país.

A CP excecionalmente no mês de junho pôs a circular a sua linda locomotiva azul a diesel datada de 1967, que conserva as suas características originais.
















Esta locomotiva a diesel fez as delícias do meu príncipe, assim como as 5 carruagens históricas panorâmicas em madeira, com as janelas que se abrem e que permitem contemplar a paisagem do Douro de uma forma única.







Partida da Régua rumo ao Tua

 Durante a viagem





 Paragem obrigatória no Pinhão

Na estação do Pinhão

É espetacular podermos explorar, andar e circular à vontade e sem restrições pelas carruagens do comboio histórico. Deitarmos a cabeça de fora e deixarmo-nos encantar pelos sons das rodas nos carris, enquanto o vento nos bate na cara e nos atira os cabelos ao ar. Cruzarmo-nos com as embarcações no rio e trocarmos acenos. Tudo isto ao som do silvo da locomotiva, enquanto os nossos olhos filtram as imagens do rio e das encostas que nos passam à frente como um filme película projetado numa tela por uma velha câmara de cinema. Porque é num filme que nos sentimos a viver dentro deste comboio. E quem disser que esta viagem não é mágica, das duas uma, ou não sente ou então mente.

sexta-feira, 11 de maio de 2018

O milagroso champô de Cebola

De há uns anos para cá o meu cabelo enfraqueceu.

Progressivamente os fios tornaram-se mais finos e a queda de cabelo acentuou-se, atingindo sempre o pico na entrada do outono e na passagem da primavera para o verão.

Aí era ver o cabelo a ir embora no ralo da banheira, levantar de manhã e ter a almofada e os ombros do pijama impregnados de dezenas e dezenas de fios de cabelo. 

Claro que o cabelo também tem o seu ciclo de vida e a queda sazonal é um processo natural. Mas quando a queda acentuada se prolonga no tempo vira queda permanente, altera a estrutura e textura dos fios de cabelo e aí deve-se avaliar a situação com um dermatologista e/ou endocrinologista.

Foi o que eu fiz. Consultas, análises ao sangue, exames médicos e os valores e resultados apresentavam-se normais.

Sempre achei que para o enfraquecimento progressivo do meu cabelo viriam a contribuir a minha doença de estimação (endometriose profunda), o stress, três grandes cirurgias abdominais a que fui sujeita nos últimos 10 anos e as doses hormonais muito elevadas que levei quando andava nos ciclos de tratamentos de PMA.

Ao espelho e sob o meu olhar "clínico" que vê à lupa, eu facilmente observava zonas de couro cabeludo a descoberto. O cabelo em algumas zonas era francamente mais ralo e com a cabeça molhada então, ficava com o cabelo agarrado à cabeça e zonas a nú.

E lá ia eu aplicando as loções receitadas, lavando os cabelos com os champôs recomendados, experimentando receitas de mezinhas que supostamente contribuiriam para equilibrar o meu couro cabeludo. Não digo que estas soluções não melhorassem a queda de cabelo ao fim de 1 a 2 meses de aplicações. Melhoravam, nasciam cabelos novos mas não ficava com uma farta cabeleira. Nada de muito espetacular.

Até que entrei num grupo no Facebook sobre queda de cabelos e numa das publicações alguém falava do champô de cebola e dos resultados que estava a conseguir obter.

Da informação que recolhi na altura, a cebola tem imensos minerais cujas propriedades ativam a circulação sanguínea do couro cabeludo diminuindo a queda e acelerando o crescimento do cabelo.  Além disso mantém os fios de cabelo limpos durante mais tempo, dá resistência aos fios e maior brilho.

Porque não experimentar então? Ainda para mais o champô até era barato (não chega a 3 euros uma embalagem de 600 ml).



Comprei o champô de cebola da Babaria no hipermercado Jumbo e comecei a aplicar 2 a 3 vezes por semana. Já levo mais de 4 meses e continuo com a mesma embalagem.

Na altura comprei o condicionador de alho da mesma marca (se era para temperar a cabeça que se fizesse o serviço completo).

O champô uso religiosamente desde então. O condicionador é que vou intercalando com outros.

Mas ao fim de 3 a 4 semanas os resultados começaram a aparecer. 

Neste momento e ao fim destes meses todos, tenho o cabelo que não tinha há anos. Abro carreiros no couro cabeludo e não vejo as zonas ralas que antes persistiam. Tenho a cabeça repleta de cabelos novos já com uns bons centímetros de comprimento. Então à frente na zona da franja e zona posterior (zonas mais críticas) é visível a diferença de tamanho do cabelo novo em relação ao restante. E é muita, muita a quantidade de cabelo novo.

O cabelo ganhou a estrutura que há muito não tinha. Estou tão contente que tinha de partilhar esta minha experiência, pois sei que este mal da queda de cabelo afeta imensa gente.

Só tenho uma coisa a dizer:  santíssimo champô de cebola obrigada por fazeres milagres nesta cabecinha! 

Nota: É possível e há quem faça o seu próprio champô e máscaras de cebola em casa (sobretudo com cebola roxa). Não me aventurei nesses terrenos, nem estou para aí virada. Mas para quem prefere, fica a dica.

Beijinhos e um ótimo fim de semana.

terça-feira, 10 de abril de 2018

Quadro de incentivos


Para facilitar a vida aqui em casa, e os pais não andarem a repetir milhentas vezes as mesmas coisas até à exaustão, e evitar chatearmo-nos com ele outras tantas, nos últimos dias lembrámo-nos de fazer um quadro de incentivos. 

O meu filho é super querido e considero-o bastante educado, mas como todos os miúdos da idade dele a resistência em fazer as coisas fazem parte desta fase da vida.  

De forma simples e clara, fiz o mapa com as tarefas/regras diárias que é suposto ele fazer e que nos dão mais trabalho ele cumprir. Explicadas e compreendidas as regras o mapa entrou ontem em funcionamento. Se no final da semana forem mais caras felizes que infelizes ele terá recompensa. A recompensa pode ser ir a um lugar, fazer certa atividade, ter um brinquedo novo (embora o propósito não seja de todo fomentar recompensas materiais). Mas tudo depende. O mesmo funciona para as caras infelizes, mas ao contrário. O que significa deixar de ter coisas que gosta ou não ir a determinados sítios, etc. O mapa está no quarto dele num daqueles quadros expositores de cortiça e é suposto ser preenchido ao final do dia por mim ou pelo pai na presença dele, incentivando-o à reflexão e ao entendimento da avaliação atribuída. 

Mapa em folha A4

Ontem correu tudo lindamente. Só carinhas verdes e sorridentes em todos os parâmetros. Previsível para o primeiro dia. Esta manhã com o trânsito um caos, ficámos entalados mais de 1 hora para fazer um percurso que se faz em 10 minutos. A paciência começou a esgotar-se-lhe porque o carro não andava. Eu a explicar-lhe que não podia voar, nem passar por cima dos outros carros. Ele impaciente. Eu já a bufar com a impaciência dele. Até que se lembra de começar uma birra.


- Olha filho se vais começar a fazer birras sem motivo não vais poder levar cara sorridente, como já sabes!

- Achas mãe??? Isto era uma birra de brincadeira (de repente muda todo o semblante e volta a compor-se na cadeira como se nada fosse)

- És fantástico, filho! É que parecia mesmo a sério! Quase que enganavas a tua mãe.

Ficou todo inchado de felicidade. Remédio santo. 

E assim lá seguimos nós parados, paradinhos no trânsito mas felizes e contentes.

Vamos ver quanto tempo isto dura...

quarta-feira, 21 de março de 2018

É um caso sério este bolo de chocolate

Já experimentei este bolo 3 vezes e das 3 em aniversários. Por isso já me acho com legitimidade para afirmar que este é o meu bolo de chocolate de eleição.

Há um outro também muito bom que já tinha colocado aqui. Mas este que vos trago hoje tem ali um "je ne sais quoi" que o torna um bolo espetacular, absolutamente delicioso, sem ser demasiado doce ou enjoativo ao fim da primeira fatia. Porque o problema é esse, dá vontade de comer fatia atrás de fatia. E no último domigo foi vê-las a voar como andorinhas em plena primavera.

Regra geral não compro bolos de aniversário. Tirando uma ou outra exceção, prefiro fazê-los em casa. Um bolo caseiro feito com amor tem outro sabor.

Por isso não imaginam quando me vi a braços com a primeira festa de aniversário do meu filho.

E agora o que é que eu faço? O rapaz diz que gostava de um bolo do Faísca McQueen.

Vi-me quase, quase a encomendar um bolo numa pastelaria e assim resolvia-se a questão do bolo temático.

Mas por outro lado, achei que era tão mais mágico fazer o bolo em casa. As memórias do primeiro bolo de aniversário. Ele acompanhar a preparação do bolo, rapar a tigela. Era outro entusiasmo. Outro sabor a preencher as memórias, mesmo que o bolo não saísse tão bonitinho quanto se gostaria.

A verdade é que a decoração embora muito amadora fez a felicidade do rapaz, que estava super contente com o seu bolo do Faísca. Para a cobertura usei uma embalagem de queijo Mascarpone, adicionei um pacote de natas e bati tudo com açúcar amarelo a gosto. Para a decoração comprei uma embalagem de massa de amêndoa vermelha (à venda em casas especializadas mas também no Jumbo na parte das sobremesas), uma bisnaga de decoração alimentar em vermelho (à venda também na mesma secção), 2 palhinhas de papel, bandeirolas coloridas que retirei de um conjunto palitos de acepipes e um carro que usei da coleção do meu filho, que depois de lavado foi para cima do bolo em cima de um pedaço de folha de gelatina transparente, cortada à medida nem se via em cima do bolo.



O bolo do meu filho foi recheado de caramelo. Fiz o bolo numa forma única. Como cortei o bolo em duas metades ao invés de dividir a massa por duas formas do mesmo tamanho, tive de o deixar cozer mais um bocadinho para que não se desmanchasse todo na altura de o cortar em duas metade iguais. Claro que o recheio compensa depois alguma da humidade do chocolate que se perdeu com mais alguns minutos no forno. 

Já para o meu bolo não usei recheio. Cozeu menos tempo e por isso ficou muito mais húmido. Aquele bolo que se desfaz na boca. De uma próxima vez vou mesmo dividir a massa em duas formas iguais e depois montar com o recheio de caramelo.

Peço desde já as minhas sinceras desculpas por não ter foto de uma das fatias do bolo do meu filho e não ter nenhuma de jeito do meu bolo. Mas se uma pessoa não se atira às fatias na hora de comer o bolo, fica a ver navios que foi o que aconteceu ao meu pai. Mandei duas generosas fatias para casa deles e a minha mãe comeu as duas. Soube o meu pai por mim que eu tinha enviado duas, porque a versão da minha mãe é que eu só tinha enviado uma fatia pequena. E pronto, a minha mãe não se livrou dele a chamar de "Lambona!" :P

Fiz a mesma cobertura de mascarpone e natas para o meu bolo e usei a massa de amêndoas para fazer a restante decoração.

Como não sou supersticiosa e me esqueci de comprar vela, usei uma vela do ano passado (eu sou daquelas que guarda velas). Com uma faca cortei um bocadinho da cera, para descobrir o pavio novo e depois foi cortar a ponta do pavio queimado com uma tesoura. Voilá temos uma vela nova e ninguém dá por nada :)





E agora vamos ao que realmente interessa, à receita :)

Para introdução, e a título de curiosidade, em nenhuma fase da confeção deste bolo é necessário batedeira. Este bolo não se bate. E outra coisa curiosa é que a confeção da massa faz-se em 3 momentos. Momento 1, mistura dos ingredientes secos. Momento 2, mistura dos líquidos. Momento 3, junção dos sólidos com os líquidos

A medida da chávena que usei é de 200 ml

Bolo de Chocolate 

Ingredientes

2 chávenas e 1/2 de farinha de trigo
2 chávenas de açúcar amarelo 
1 chávena de cacau em pó (usei pantagruel)
2 c. de chá de bicarbonto de sódio
2 c. de chá de fermento em pó para bolos
1 c. de chá de sal grosso

1 chávena de buttermilk*
1 chávena de óleo vegetal
4 ovos
2 c. de chá de extrato de baunilha
160 ml de café expresso quente

Preparação

1) Cortar 2 círculos de papel vegetal à medida de duas formas iguais com cerca de 22 cm. Untar as formas com manteiga e farinha e forrar o fundo com o papel;

2) Pré-aquecer o forno a 180º C;

3) Numa tigela misturar bem com um garfo ou uma vara de arames a farinha, o açúcar, o cacau, o bicarbonato de sódio, o fermento e o sal.

4) Noutra tigela misturar o buttermilk, o óleo, os ovos inteiros e a baunilha.

5) Incorporar aos poucos a mistura de líquidos na mistura dos sólidos. Por fim adicionar o café quente e mexer.

6) Dividir a massa pelas duas formas e assar por 35 minutos ou até que no teste do palito este saia limpo.

7) Retirar os bolos do formo e deixar na forma por 30 minutos até esfriarem completamente.

Recheio de Caramelo:

100 gr de açúcar
100 ml de natas
1 c. de sobremesa de sopa de manteiga
uma pitadinha de pedrinhas de sal

1) Levar o açúcar ao lume com 1 colher de sobremesa de água. Deixar que se dissolva até ficar castanho claro.

2) Aquecer as natas.

3) Fora do lume, juntar ao açúcar em caramelo as natas, cuidadosamente e aos poucos, mexendo com uma colher de pau ou vara de arames. Juntar ao creme a manteiga, continuando a mexer. Deixar arrefecer e conservar até à altura de usar.

*Para fazer o buttermilk é juntar a 1 chávena de leite 4 colheres de sopa de sumo de limão e deixar repousar alguns entre 5 a 10 minutos à temperatura ambiente até o leite apresentar o aspeto de leite talhado.

Para quem decidir fazer este bolo numa forma só sem recheio aconselho a cozer durante 45 minutos. Se optarem por usar a forma e dividir o bolo em 2 metades aconselho a que este coza por mais 8 a 10 minutos.

E agora sejam felizes com este bolo de chocolate :)

terça-feira, 20 de março de 2018

Do primeiro dia do Pai

Ontem foi um dia muito especial cá por casa.

Desejo que seja o primeiro de muitos dias do pai. 

Um dia especial para pai,  filho e mãe que viveu como se fosse dela este dia também.

O pai fez questão de marcar presença na escola do filho e receber as surpresas que tinham sido preparadas para ele.

Em casa recebeu muitas outras surpresas que o filho também quis preparar. Coisas simples, destituídas de valor material, mas valiosas no que guardam em si de afeto e amor.

Tentei não participar e intrometer-me muito na elaboração das surpresas cá de casa porque a beleza está no que é genuíno e autêntico.

E é por isso que este dia me comoveu tanto a mim quanto ao pai.

Entre outras surpresas, o nosso filho quis desenhar a família e oferecer ao pai. O pai,  a Cereja, o filho e a mãe. Achei tão cheio de significado. Limitei-me a ajudá-lo nas letrinhas que ele só teve de copiar de uma folha para o desenho.


Depois disso quis fazer o pai em peças de Lego.

E a imaginação do meu filho deixou-me assim de coração cheio quando me chamou para ver a sua construção e ajudar no problema que ele não estava a conseguir resolver. O pequeno boneco de playmobil não cabia dentro da janela que ele colocou no peito do pai. Com alguma ajudinha da mãe, arranjou-se uma pecinha de lego onde se pudesse colocar olhos. Depois da peça escolhida, ele decidiu que queria que o filho estivesse a dormir na "barriga" do pai.


Arrepia-me esta ligação tão umbilicalmente amorosa entre pai e filho que começou ainda antes de existirem um para o outro (ver publicação "Prometidos").

Não é a primeira vez que ele se desenha dentro do pai. Outras vezes dentro da mãe. Muitas vezes dentro dos dois. E a verdade é que o carregámos os dois ao peito, Pai e Mãe. Carregámos o nosso filho 5 anos no coração. E em nenhum o amor pesou mais do que no outro. 

Mas como a mãe também queria fazer uma surpresa ao pai, elaborou poucos dias antes um álbum da semana em que conhecemos o nosso filho até ao dia em que regressámos com ele a casa. É uma compilação de momentos mágicos, únicos, deste nosso amor maior. 

O álbum chegou ontem cá a casa. Mesmo em cima do dia do Pai. Experimentei pela primeira vez a Saal para a criação do álbum. Descarreguei a aplicação no PC e aproveitei o desconto promocional na primeira encomenda. Adorei a qualidade do acabamento do álbum e das fotografias. Excelente. Recomendo. Ficou um álbum livro muito bonito.

O pai adorou e comoveu-se, sobretudo porque desconhecia a existência de algumas fotos que eu tinha, entre elas o momento em que o nosso filho nos conheceu e correu para os braços do pai. Fotos essas tiradas pela psicóloga do Centro de Acolhimento. Fotos dos nossos primeiro passeios, das nossas primeiras gargalhadas, beijos, refeições, brincadeiras, da nossa ida à piscina, ao parque, do dia em que o nosso filho veio dormir connosco pela primeira e única vez à "casinha do hotel" e a meio da noite se mudou para a nossa cama. Enquanto pai e filho dormiam juntos, tirei fotografia. São momentos como estes que fazem deste livro um livro de memórias inesquecíveis, o mais lindo registo das nossas vidas. 



Início do álbum

Fim do álbum

Ontem o dia foi simples, mas carregado de emoções bonitas. Juro que nunca imaginei um dia emocionar-me tanto com o dia do Pai. Mais do que o dia do pai foi o dia deles e eles merecem-se tanto!

segunda-feira, 12 de março de 2018

Tu e a Cereja


Com a tua chegada estávamos muito longe de imaginar o quanto a Cereja viria a ser importante na tua e na nossa vida ao longo destes 5 meses que estás connosco.

Não só porque adoras animais. Não só porque no teu imaginário tu sonhavas com uma família onde existisse um cão. Não só porque adoras a Cereja e é de derreter corações a maneira como a mimas e a tratas; da mesma maneira que lhe fazes traquinices e a chamas tantas e tantas vezes “minha quida mai linda e mavilhósa”. Quando vamos a algum lado tu pensas imediatamente nela. Se não pode ir connosco sentes pena. A vossa relação é extraordinária e é incrível saber o quanto é “mavilhóso” o teu coração e o quanto ele cresce connosco e com ela.


Mas mais importante é a empatia que no imediato criaste assim que soubeste da história de vida da Cereja. Nunca fizemos a associação da história dela com a tua história. Nunca. Mas tu fizeste-la. E a verdade é que tem ajudado tanto.

Sabes que a Cereja foi abandonada. Que a Cereja foi para um canil, um lugar onde os cães estão tristes porque não têm família e querem muito ter uma casa sua e uns donos que cuidem e ofereçam carinho e mimo. Sabes que fomos buscar a Cereja e que a Cereja foi adotada por nós. Sabes que não existem fotos da Cereja cachorrinha porque a Cereja já veio crescida para a nossa casa (tinha sensivelmente 1 ano). E sabes o quanto ela é amada e estimada por todos.

Foi talvez no primeiro mês, num dia de sessão de cinema no sofá, enquanto víamos “A Dama e o Vagabundo”, que tu verbalizaste pela primeira vez essa associação de histórias. Tu estavas no CAT (Centro de Acolhimento Temporário) e os pais também te foram buscar como foram buscar a Cereja. Ambos ganharam uma família. Foi tudo quanto disseste.

Quando vês um cão na rua sem dono a tua preocupação é imediata. “Está abandonado!” e mostras-te triste e preocupado porque vai para o canil.

Há 2 dias, estava eu a conduzir enquanto tu vinhas com a Cereja no banco de trás do carro e perguntaste: “Mãe qual era o nome antigo da Cereja?”. Fiz ali um compasso de espera de segundos para arranjar um nome que não me esquecesse e inventei este:

“Cereja Joaquina Almeida Costinha”.

Tu sabes que na altura em que os pais foram buscar a tua cadelinha já ela se chamava Cereja. Tal como tu já tinhas um primeiro nome. E que desde que passou a viver nesta casa é Cereja Patrícia e restantes apelidos da família. Os mesmos que irás ter quando todo o processo se concluir (nunca mais passam os eternos 6 meses de pré-adoção!).

No início ficavas baralhado quando ias ao médico e te chamavam pelo nome, que já te dissemos irá mudar quando chegarem os novos documentos. Por enquanto as outras pessoas não sabem que tu já não estás no CAT. Mas quando tiveres novos cartões todos saberão o teu novo nome e aí já não existirão mais confusões.

Por agora na tua cabeça tu achas que nasceste no CAT e que estavas lá à espera que os pais te fossem buscar. Que a psicóloga e a assistente social que nos visitam todos os meses em casa são as fadas madrinhas que avisaram a mãe e o pai que já tinham um filho e que esse filho eras tu. E por isso tivemos de viajar para longe para te ir buscar. E tu tiveste de fazer uma looooooonga viagem para chegares a casa (até agora a maior que já fizeste e na tua cabeça é mesmo muito, muito longa como se te tivessemos ido buscar à Conchichina). 

Mas voltando à tua pergunta sobre o anterior nome da Cereja, assim que ouviste a minha resposta não te vi o rosto, mas ouvi-te lá atrás a falares com a Cereja e a dizeres-lhe: “olha Cereja, eu também vou ter um nome novo como tu”, “Todos vão saber que somos da mesma família”. Nessa altura espreitei pelo espelho retrovisor e vi-te a afagares-lhe o pelo enquanto esboçavas um sorriso.

Obrigada Cereja por seres o nosso cão. Obrigada por tudo o que nos dás todos os dias da tua vida.

P. S. Para quem ainda não segue a Cereja na sua página do FB, podem fazê-lo aqui e acompanhar as suas histórias, aventuras e momentos em família :)

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

A chegada

Faz hoje 4 meses que chegaste ao lugar que sempre te esperou.

Chegámos de dia enquanto havia luz natural dentro de casa porque a noite é feita de medos, de sombras, de silêncio e solidão.

Apresentámos-te todos os cantos. Cada uma das divisões e, a grosso modo, as regras de cada uma. Até tu chegares, nunca tinha pensado a fundo nas regras tão intrinsecamente associadas a cada canto, e o quanto elas são importantes para que a casa funcione na cadência perfeita da vida de cada família.

É que ninguém nasce ensinado a viver numa casa e quando já temos alguns palmos de altura e muitos centímetros de pensar, isto tem muito que se lhe diga.

Nesse mesmo dia fui buscar a Cereja que tinha passado a semana na casa dos avós. Tu estavas cheio de curiosidade de conhecer ao vivo a Cereja. Já tinhas perguntado por ela no Centro de Acolhimento. “Porque é que a Cereja não veio?”, questionaste tu. Só a conhecias por fotografia do Álbum de Família. 

Tu adoras cães. Adoras animais no geral. Isso facilitou como complicou. Deu para os dois lados. A relação nos primeiros dias não foi fácil de gerir. A Cereja sentiu imensos ciúmes. Não tolerava saltos, correrias, barulhos mais estridentes. Estava habituada a pacatez de uma casa que terminou no dia em que chegaste. 

Desconfiada, ladrava-te, corria atrás de ti para te agarrar. Não foi fácil. Tu eras um intruso que alteraste a dinâmica da vida de toda a gente. Rapidamente percebeu que já não era o centro das atenções. Sentia-se desconfortável, stressada, insegura na tua presença. Estava sempre alerta. Protetora dos donos. Bem vistas as coisas, não houve tempo para uma preparação prévia da tua chegada. Ela percebeu que de repente uma divisão de arrumos ficou vazia e num estalar de dedos se transformou num quarto. Percebeu a nossa azáfama, a nossa ansiedade, mas pouco mais...

Mesmo nesses momentos, tu nunca ganhaste medo. O que não ajudou nadinha. É que se percebesses o perigo, a insegurança, conseguirias ser mais prudente, cauteloso. Mas não! És sempre o mesmo. Isso preocupou-nos muito nos primeiros dias. Como é que íamos resolver esta questão?

Foi difícil, e em certos momentos ainda é, ensinar-te que tens de saber respeitar o espaço da Cereja. Que há regras que importa não esquecer e que se não forem aplicadas ela pode reagir na defensiva e ser perigoso.

Com paciência, com firmeza e assertividade, conseguiu-se que a Cereja percebesse que tu não eras um perigo e que o lugar dela nunca esteve ameaçado.

Hoje são os melhores amigos das brincadeiras. A amizade, o amor que têm um pelo outro é simplesmente incrível. De encher o coração.

Também se chateiam. Ela contigo. Tu com ela. Mas adoram-se e já não vivem um sem o outro. 

Quando a mãe ralha porque tu fazes ouvidos moucos ou fizeste das tuas ou não fizeste o que era suposto, ela mete o bedelho e ralha contigo também. Mas também te protege. Cobre-te de beijos, mima-te. E quando tu fazes das tuas, desculpas-te que foi a Cereja. E quando apareces com um arranhão novo que sabemos que foi ela, tu escondes o delito e dizes que foi outra coisa qualquer. A vossa cumplicidade é enternecedora.

Sim, o início da vossa relação não foi cor-de-rosa, mas hoje é azul da cor do céu com um sol de primavera bem ao centro a fazer crescer o vosso amor-perfeito.


Dos livros... alguns livros de histórias esperavam por ti na tua mesa de cabeceira. Histórias para te ajudar a dormir quando fosses para a cama e a mãe ou o pai te embalassem no ritmo das palavras que fazem sonhar. Durante muito tempo nenhuma destas história foi suficientemente cativante, interessante, sugestiva. E os livros continuaram ali, por ler. A única história que pedias era a tua. A tua história. E tu ias buscar o teu álbum e pedias que te contassem a tua história antes de adormecer. Sempre da mesma maneira, sem mudar uma vírgula, porque tu estavas ali a ouvi-la muito atento. E a qualquer infração, qualquer desvio, tu feito polícia, metias a tua história na ordem. Não, não. Não é assim! Conta lá outra vez! Foi assim, noite após noite. Era a tua história que tu querias ouvir. Essa sim, a mais cativante, a mais interessante e verdadeira.

O teu álbum, o teu tesouro, como tu o chamas, está guardado numa das gavetas da mesa de cabeceira. Tem uma gaveta só para ele. Vive ali sozinho, porque nada é suficientemente valioso para lhe fazer companhia. 

Durante os dois primeiros meses recusavas-te a falar do Centro de Acolhimento.

Tocávamos no assunto e tu rapidamente partias para outro. Deixaste de te lembrar dos nomes dos teus amigos, das pessoas que cuidaram de ti. Como se fizesses questão de esquecer ou não lembrar. Medo de doer? Medo de nos fazer doer se nos dissesses que tinhas saudades? Dificilmente saberemos o que te ia na cabeça e no teu coração de menino. Só não querias falar. 

Um dia a mãe disse-te que sentir saudades é bom e que podemos enviar abraços e receber abraços quando precisamos muito. E isso era possível com o botão do amor. Um coração desenhado no topo da mão, junto ao dedo polegar. Tu ouviste-me muito atento e não disseste nada. Algum tempo depois, vieste ter comigo e pediste baixinho: “Mãe, podes desenhar aqui um coração?” e apontaste para o lugar certo na tua mão. Tu começaste a perceber que não havia mal, nem ninguém ficaria triste, desapontado, que tu sentisses saudades de um lugar que foi teu, que é parte da tua história. 

E a pouco e pouco tu foste tranquilizando e percebendo que aconteça o que acontecer, mesmo nos momentos difíceis, no meio de uma teimosa e intempestiva birra tua, esta é a tua casa, este é o teu lugar para sempre e o amor por ti é inquestionável. A tua vida passou a morar aqui, no nosso coração. Para sempre.

E agora já és tu que espontaneamente falas dos teus amigos de lá, de coisas que lá fazias, de coisas que te lembras. Sem medos, sem receios e de coração aberto.

As coisas foram mudando, tu foste mudando...

Em 4 meses são tão grandes as mudanças que já aconteceram em ti que o sentimento é que já passaram anos. Comparo as tuas primeiras fotos e as atuais e vejo, vê-se, como até as tuas feições mudaram. 

E o que tu já falas? É impressionante o salto que tu já deste na forma como te expressas. Sim, existir um atraso na comunicação oral é um problema muito comum em meninos institucionalizados, tantas vezes vítimas da privação de estímulos fundamentais para o seu desenvolvimento integral. Os teus progressos são incríveis. A tua capacidade de autocorreção é admirável. A tua inteligência e perspicácia deixam-me diariamente boquiaberta. Passaste a ter um dicionário. Uma estratégia lúdica que arranjei para guardar as tuas palavras. Tu já pedes para eu escrever as tuas expressões e ao lado a forma correta. Até já te ris de ti próprio. Muitas delas já dizes bem. Outras continuam ainda a ser difíceis. Mas devagarinho se vai ao longe. E a brincar vamos tratando de coisas sérias. É tão fascinante ver-te crescer. Sinto o maior orgulho em ti, o maior orgulho em nós. Saber que pude mudar o curso da tua vida. Que podes ser muito mais. Que posso dar-te asas para voares todos os voos que a tua liberdade conseguir. 

Estes meses têm sido muito intensos, emocionalmente intensos. Repletos de coisas novas, de muitas aprendizagens, imensas alegrias, alguns medos, inseguranças, mas sobretudo de muito amor. A chave é mesmo o amor. O nosso amor. É ele o farol nas nossas vidas. Aquele que nos ilumina o caminho. A travessia. É o amor o responsável pelo que nos aconteceu. A ti e a nós. Foi ele que nos levou ao coração uns dos outros. E quando isto acontece, não há lugar para desencontros. 

Mesmo naqueles momentos em que erro uma e outra vez porque sou humana e tropeço. Tropeço em mim, quando tento dar o melhor mim e não sei como faço. E vou aprendendo à medida que vou desfazendo os nós e começo a fazer laços. Porque desde que chegaste que o meu coração mudou nas voltas que o mundo deu para te encontrar. Passaste a morar lá dentro, nesse lugar que cresce pra dentro e que aperta sempre que vais cair e eu estou ao teu lado para te segurar.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

A semana

O dia em que nos conhecemos foi brutalmente intenso em emoções. 

Despedimo-nos de ti a meio da tarde e regressámos à nossa casinha do hotel, como tu dias depois virias a chamar carinhosamente ao lugar onde estávamos hospedados.

Chegámos esgotados. Felizes, mas esgotados. Parecia que de repente toda a nossa energia anímica tinha-se finado, como estrelas engolidas por um buraco negro.

Não houve lugar para conversas, para pensamentos avulsos, opinões, o que fosse… Não havia forças. Ficámos calados. Precisávamos desse silêncio. Do descanso, do repouso das palavras. Não havia espaço para existirem. Seriam puro ruído depois de tudo e do tanto que nos tinha acontecido.

Sei que chegámos ao quarto e nos atirámos para cima da cama, vestidos, de corpo partido e ali extenuados o teu pai adormeceu no mesmo segundo. Eu ainda resisti uns minutos de olhos postos no teto a flutuar. Sem pensar em nada. De cabeça vazia e de coração cheio. Acabei também por adormecer vencida pelo cansaço.

Todos os dias daquela semana foram para ti. Para nós. Para os três. E foram tão intensos.

Quando de manhã cedo chegávamos ao centro de acolhimento, poucos minutos depois dos meninos terem ido para a escola, e tocávamos à campainha para te ir buscar, nós do lado de fora já sentíamos a tua euforia. Tu, lá dentro, a correr em direção à porta e a gritar de forma entusiasta: "É o papá e a mamã!" Vinhas sempre cheio de presa. Havia tanto para fazer, tanto para viver. Estavas tão feliz e nós tão felizes contigo.

Esses dias estão guardados nas memórias mais doces e ternurentas que tenho de tudo quanto já vivi até aqui. São inesquecíveis. São únicos. São dias nossos que já ninguém nos tira.

Arrepio-me quando a minha memória volta lá, aos lugares, às coincidências, como a música "Into my Arms" que durante dias tocou em modo repeat na minha cabeça. E voltou a tocar ali, no parque infantil, vinda do café que ficava mesmo em frente, enquanto tu no alto do escorrega gritavas:

“Mamã eu vou cair. Tu apanhas-me, está bem?”


Arrepio-me quando no dia da partida, tu deste um beijo rápido de despedida às funcionárias e às responsáveis do centro de acolhimento. Não te despediste dos teus amigos. Iria ser doloroso. Foi melhor assim. Sobretudo para quem fica. Tu também durante muito tempo ficaste e esperaste até este dia. 

Os adultos que conhecias, aqueles em que confiaste e que cuidaram de ti, não conseguiam disfarçar o misto de emoções naquele momento. Foi difícil. Todo o carinho que sentiam por ti, estava ali, estampado nos olhos humedecidos e nas vozes trémulas que te desejavam o melhor. Porque o melhor estava guardado para ti. Foi difícil não me emocionar também. Afinal de contas aquele foi o teu lugar, a paragem onde te abrigaste das tempestades da vida, enquanto esperavas por nós.

Mas tu sempre de sorriso nos lábios, como só os audazes sabem ser nos momentos difíceis, acenaste um último adeus, pegaste no teu saco e na tua pequena mochila, e no teu jeito despachado e muito expedito foste andando em passos largos à nossa frente. Sem vacilar entraste no carro para a última viagem sem retorno. Nunca em momento algum olhaste para trás. O teu pai ao volante e eu ali ao lado a conter as lágrimas. E tu, no banco de trás, a única coisa que nos disseste antes de partirmos:


“E agora, já podemos ir para casa?”